Nos próximos dias, novos indicadores do mercado de trabalho serão divulgados pelo IBGE e pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério da Economia. Dificilmente serão motivo de comemoração no Dia do Trabalho, em 1º de maio. A expectativa é que os indicadores de emprego referentes a março não mostrem melhoria significativa diante da revisão para baixo realizada nas últimas semanas das perspectivas para a economia neste ano.
Um certo otimismo chegou a ganhar forma após os dados do Caged de fevereiro superarem as expectativas com a criação de 173, 1 mil vagas formais, o maior número para o mês desde 2014 e o sexto melhor desde o início da série histórica, em 1992. Com esse resultado, o ano acumulou 211,5 mil empregos criados. O levantamento mostrou a expansão do mercado de trabalho em sete dos oito setores econômicos no mês. O único que mais fechou postos do que abriu foi o agrícola. Como o carnaval ficou para março, houve impacto positivo do maior número de dias úteis no mês. Apesar das comemorações do governo, o salário médio real de admissão segue inferior ao de desligamento, refletindo a deterioração.
Os dados posteriores do IBGE confirmaram que há motivos para cautela. A taxa de desemprego ficou em 12,4% no trimestre móvel encerrado em fevereiro, de acordo a Pnad Contínua. Apesar de registrar declínio em comparação com os 12,6% do mesmo período de 2018, a taxa ficou acima da apurada no trimestre móvel anterior, encerrado em novembro, de 11,6%, e acabou sendo criticada pelo presidente Jair Bolsonaro, descontente com o termômetro e incapaz de fazer a febre retroceder. A população ocupada, incluindo empregados, empregadores e autônomos, totalizava 92,1 milhões em fevereiro, 1 milhão a menos da mesma base de comparação.
Nada menos do que 13,1 milhões de pessoas estavam desempregadas em fevereiro, 892 mil a mais do que no trimestre móvel anterior, ou 7,3%. Outras 27,9 milhões de pessoas formavam o batalhão de mão de obra subutilizada, que inclui desempregados, subocupados, que estão empregados e gostariam de trabalhar mais, e as pessoas que não buscam emprego, mas estão disponíveis para trabalhar. O grupo dos subtilizados aumentou para 24,6% da força de trabalho, acima dos 23,9% do trimestre anterior. Apenas os desalentados chegavam a 4,9 milhões de pessoas, 150 mil a mais na comparação ao trimestre móvel anterior. Em relação ao mesmo período do ano passado, o desalento cresceu 6%.
Pesquisa feita pelo Valor confirma a expectativa de redução na geração de vagas em março. A média das estimativas de 17 consultorias e instituições financeiras aponta a criação de 70 mil novos empregos formais no mês passado, menos da metade do contabilizado em fevereiro. A baixa confiança dos empresários em relação à recuperação da economia explica o quadro. O economista José Pastore, especialista em mercado do trabalho, chegou a dizer que, mesmo que a reforma da Previdência seja aprovada, uma recuperação mais consistente do mercado de trabalho somente será sentida a partir do próximo ano (Valor, 29/3). As projeções do Instituto Brasileiro de Economia da FGV vão na mesma direção.
A taxa de desemprego deve continuar em dois dígitos por algum tempo e pequeno progresso deve ocorrer basicamente com a oferta de trabalhos informais, poucos formais, e quase nenhuma recuperação salarial. O aumento do número de pessoas procurando emprego contribui para frear a melhoria da remuneração. Para o Caged, a previsão é de criação de 740 mil a 750 mil vagas neste ano, de toda forma acima das 421 mil criadas em 2018.
As previsões para o mercado de trabalho são coerentes com as estimativas para a economia, que esfriaram. Não são poucos os motivos para a mudança de clima, acelerada pelos primeiros percalços do novo governo em levar adiante as reformas prometidas. Outros fatores contribuíram, como a tragédia de Brumadinho (MG), que afeta a indústria extrativa, e o aprofundamento da crise argentina, que repercute na indústria brasileira, além da fraca taxa de investimento, da letargia na construção civil, da desalavancagem das famílias e empresas, e da lenta queda do custo do dinheiro, com a resistência dos spreads bancários. Pesquisa Focus divulgada na segunda-feira mostrou a que a previsão para o PIB deste ano, que estava em 2% há um mês, recuou a 1,71% agora. Não são poucas as instituições financeiras que esperam taxa ainda menor, mais perto de 1%. O primeiro trimestre pode até apresentar uma taxa negativa.
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