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Marcha soldado, cabeça de papel...
Um vídeo de 30 segundos, que estimula o público jovem a abrir contas no Banco do Brasil, serviu para que o presidente Jair Bolsonaro emitisse mais uma ordem do dia dirigida aos que lhe prestam serviço no governo – do funcionário mais graduado ao bagrinho lá da base do topo da pirâmide.
– Olha, por exemplo, meus ministros, eu tinha uma linha, armamento. Eu não sou armamentista? Então ministro meu ou é armamentista ou fica em silêncio. É a regra do jogo.
Do tradutor de Bolsonaro: quem no governo pensar diferente dele deve calar-se. É a regra a ser respeitada sob a pena de demissão. O capitão fechou a porta a eventuais opiniões contrárias às suas. E esqueceu-se de dizer se haverá espaço para que elas se manifestem pelo menos em conversas reservadas com ele.
Mas que conteúdo tão explosivo foi esse do comercial do banco proibido por Bolsonaro de ser levado ao ar? A propaganda era estrelada por 14 atores e atrizes jovens, a maioria negra, alguns tatuados, que faziam selfs e dançavam. Explorava o tema da diversidade. Nada mais do que isso.
A censura ao comercial provocou a demissão do diretor de marketing do banco ordenada pelo próprio Bolsonaro. Em seguida, uma portaria enviada a todas as empresas estatais informou que doravante qualquer campanha teria de ser submetida ao crivo da Secretaria de Comunicação da presidência da República.
Para contrariedade de Bolsonaro, a portaria foi revogada em menos de 24 horas simplesmente porque feria a Lei das Estatais. Então o que ele fez? Avisou aos interessados por meio da imprensa:
– Quem indica e nomeia presidente do Banco do Brasil não sou eu? Não preciso falar mais nada então. A linha mudou, a massa quer respeito à família, ninguém quer perseguir minoria nenhuma. E nós não queremos que dinheiro público seja usado dessa maneira. Não é a minha linha. Vocês sabem que não é minha linha.
Coube ao presidente do Banco do Brasil, Rubem Novaes, que deve o cargo ao ministro Paulo Guedes, da Economia, lustrar a explicação tosca de Bolsonaro para a censura ao comercial. Ela deve ser vista, segundo Novaes, “em um contexto mais amplo em que se discute a questão da diversidade no país”.
Em seguida, criticou a esquerda e os meios de comunicação que teriam tentado nas últimas décadas “empoderar as minorias” e caracterizar o “cidadão normal como exceção”. Disso resultou, disse Novaes, a “guerra cultural” que confronta “pobres e ricos, negros e brancos, mulheres e homens, homo e heterossexuais”. Entendeu?
Resumo da ópera: o comercial do banco era uma perigosa peça a serviço da esquerda interessada em dividir os brasileiros. Para quê? Certamente para implantar o comunismo. Como guardião da família, das tradições nativas e da pátria, Bolsonaro se viu obrigado a vetá-lo. Foi apenas isso o que aconteceu. Taokey?
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