É natural que o tema concentre as atenções, mas existe uma agenda econômica robusta para depois
A ênfase dada à reforma da Previdência é diretamente proporcional ao tamanho do problema fiscal do país. Vai-se para o sexto ano seguido de déficit primário nas contas públicas — excluindo juros da dívida interna —, fator que corrói o equilíbrio do sistema, contaminando de forma tóxica as expectativas dos agentes econômicos.
E o déficit previdenciário é a locomotiva que puxa o desbalanceamento das contas públicas. Um buraco que cresce sem controle, provocado por regras que só podem ser alteradas por emenda constitucional. Daí o nó político e econômico em que o Brasil se encontra.
Mas isso não significa que esta reforma remova todos os obstáculo à frente do país. É condição necessária para a entrada em um ciclo de crescimento sustentável — o que não acontece desde pelo menos o final do primeiro governo Lula —, mas não suficiente.
Em entrevista ao jornal “O Estado de S.Paulo”, o economista Carlos Geraldo Langoni, ex-diretor do Banco Central, diretor do Centro de Economia Mundial da Fundação Getulio Vargas (FGV), trata dessa fase pós-reforma, estratégica para mudar a dinâmica da economia brasileira.
Langoni defende que se apresse o passo, para que, depois da Previdência, venha a reforma tributária, a fim de que seja possível abrir a economia ao exterior, a “reforma esquecida”.
Sem um choque de concorrência, os padrões de produtividade do país continuarão medíocres, fatal para uma sociedade cuja demografia aponta para o envelhecimento inexorável da população.
Com o “bônus demográfico” decrescente — o encolhimento da parcela de jovens da população —, mais ainda é preciso um sistema produtivo eficiente para sustentar o crescimento. Que deixa de depender da crescente entrada de mão de obra no mercado de trabalho. Ganha importância decisiva o crescimento da produtividade.
Mas, para abrir-se a economia, as reformas, para além da Previdência, precisam dar condições de competitividade às empresas. Em vez de quebradeira, é vital concorrência, absorção de tecnologia, integração a cadeias globais de produção etc. E não falências em série.
Langoni e Paulo Guedes fizeram doutorado na Universidade de Chicago, referência do pensamento econômico liberal. Afinados no diagnóstico da crise brasileira, têm conversado com frequência, entre outros assuntos, sobre o “choque da energia barata”, a partir da desregulamentação do mercado de gás. O que passa pela extinção de mais um monopólio da Petrobras, daí as resistências.
O assunto já foi tratado publicamente por Paulo Guedes, e tem relevância estratégica. O ministro já previu que o gás de cozinha pode ficar 50% mais barato.
O tema é ainda mais relevante porque, com a exploração do pré-sal, aumentará bastante a produção de gás, e é preciso usá-lo como insumo industrial, combustível, entre outros fins, e não queimá-lo como simples subproduto da extração de petróleo. A custo baixo, o efeito positivo deste gás no sistema produtivo será incalculável como deflagrador de novos investimentos. Mas antes é preciso remover o entulho previdenciário.
Porém, é preciso pressa, alerta Langoni, diante da previsão do Fundo Monetário Internacional (FMI) de que o mundo entra num ciclo de desaceleração. Quanto mais forte estiver a economia brasileira, mais protegido o país estará.
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