Só com muito esforço o governo Bolsonaro pode superar sua inapetência para lidar com o Legislativo
Sustentar bases parlamentares relativamente extensas e coesas, ensinou a experiência brasileira ao longo dos últimos 34 anos, tornou-se condição necessária para a viabilidade do presidente da República e de seu programa de governo.
Quem desafiou essa escrita —por ignorância, incapacidade ou vontade— terminou pessimamente.
O primeiro grande teste da administração Jair Bolsonaro (PSL) com o Congresso não prognostica boa evolução nesse terreno. A passagem do projeto de reforma previdenciária, a prioridade das prioridades de seu mandato, pela protocolar CCJ da Câmara dos Deputados tomou exagerados 62 dias.
Tanta demora está imediatamente associada à bagunça e à inépcia da articulação parlamentar do Planalto.
Já as suas causas profundas se assentam na maneira pela qual o presidente e parte de seus aliados enxergam a política representativa e no modo como são preenchidos os postos de alta responsabilidade na máquina federal.
A tediosa série de provocações de filhos de Bolsonaro ao vice-presidente, Hamilton Mourão, e a oficiais militares no governo e na caserna é recebida quase com benevolência pelo pai chefe de Estado. A candura da reação equivale a um sinal verde para que continuem os ataques, que chegaram a ser veiculados até mesmo por um canal pessoal do presidente da República.
Por aí se expressa a chamada ala ideológica do bolsonarismo, que pirateia e tropicaliza um movimento de filiação autoritária e neopopulista desenvolvido em outros países.
Esse grupo se lixa para as organizações —como o Judiciário independente, os corpos regulares do Estado e a imprensa livre— inventadas pela tradição democrática para evitar que a sociedade seja tiranizada pelo chefe do governo.
Na gestão Bolsonaro, tal franja de celerados não se limita a falar pelas redes do presidente e a alvejar quadros vindos das Forças Armadas. Faz campanha insidiosa contra ministros do Supremo Tribunal Federal, interfere em políticas públicas, nomeia e demite assessores.
Mas, com seu desejo recôndito de ver a representação parlamentar destruída ou submetida pela força ao ditado do líder, sua atuação apenas agrava a falta de tino do presidente para coser, no Legislativo, uma coalizão regular de apoio.
A segunda resposta típica do presidente quando está em apuros, a nomeação de militares para postos-chave, enfraquece o vetor anti-institucional representado pelo clube dos lunáticos e melhora a qualidade da administração. Mas tampouco ajuda na condução de interesses do Planalto no Congresso.
De tão entranhada na própria implantação do governo Bolsonaro, a inapetência parlamentar demandará muito esforço para ser superada. O risco de não mudar, porém, é ainda maior. Chama-se fracasso.
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