Confusão, frustração, cenário desanimador, incerteza e País estressado são palavras do pesquisador Claudio Considera, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), usadas para descrever e explicar o fiasco econômico do primeiro trimestre – primeiro do ano e também do mandato do presidente Jair Bolsonaro. Nesse período a economia brasileira, estagnada, produziu 0,1% menos que nos três meses finais de 2018, segundo o Monitor do PIB-FGV.
Quando esse boletim foi divulgado, na sexta-feira de manhã, o dólar se aproximava de R$ 4,10. O câmbio refletia tensões internacionais e principalmente, segundo analistas do mercado, a insegurança quanto à reforma da Previdência e à recuperação econômica, num quadro próximo de uma crise política. À tarde a cotação passaria de R$ 4,11.
A bolsa paulista, no começo da manhã, havia ensaiado uma reação, depois de haver caído para menos de 90 mil pontos, no dia anterior, e atingido um dos patamares mais baixos desde a época das eleições.
Os números da FGV somaram-se a uma sequência de más notícias econômicas e políticas. Na mesma semana o Banco Central havia informado uma nova queda de seu Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) – um recuo de 0,68% em relação ao quarto trimestre do ano passado.
O desastre econômico sofrido pelo País no período de janeiro a março será conhecido com dados oficiais em 30 de maio. Nesse dia o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) deverá apresentar o Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre.
O Monitor elaborado pela FGV, publicado todo mês, tem antecipado com notável aproximação – e até precisão – as contas nacionais do IBGE. Se houver, desta vez, alguma divergência, será por certo muito pequena, a julgar pelo histórico desse trabalho. Dificilmente o balanço oficial mostrará um quadro menos assustador que o apresentado nessa sexta-feira. Se a queda trimestral for confirmada pelo IBGE, terá sido a primeira depois de oito trimestres consecutivos de crescimento. Esse “cenário desanimador”, segundo o responsável pelo relatório, Claudio Considera, reflete “a incerteza política e econômica” com seu impacto negativo no investimento, na atividade, na retomada do emprego e no consumo das famílias.
Outra piora significativa indicada pelo Monitor é a expansão de apenas 0,9% acumulada nos 12 meses até março. Se também confirmada, essa terá sido a primeira variação inferior a 1% em 12 meses, desde novembro de 2017, como lembrou Considera na apresentação do novo relatório.
Em todo o ano de 2018 o PIB cresceu 1,1% em relação ao ano anterior. Essa foi a mesma taxa contabilizada em 2017, primeiro ano depois da recessão de 2015 e 2016. O crescimento em 2018, decepcionante, foi em boa parte explicável pela desastrosa paralisação do transporte rodoviário, em maio, e pela insegurança econômica associada a tensões políticas e à sucessão.
Sondagens apontaram, depois da eleição, expectativas de melhora, mas os primeiros meses do novo governo foram frustrantes na política e na economia. No ano passado houve uma modesta elevação do investimento produtivo, mas também esse indicador piorou. No trimestre findo em agosto de 2018, o investimento, medido pela formação bruta de capital fixo, foi 8,5% maior que o de um ano antes. No trimestre inicial deste ano a alta em relação aos primeiros três meses do ano passado ficou em apenas 0,4%.
“A equipe econômica é ótima, qualificada, todas as expectativas eram positivas, e isso se inverteu em três meses”, disse Claudio Considera. “O comportamento político do governo causou confusão. O País está estressado. Todo dia tem confusão”, resumiu o economista, indo além dos comentários normalmente formulados na divulgação do Monitor-FGV.
No mesmo dia, o presidente postou um tuíte desastrado sobre sua dificuldade de governar com o Congresso, isto é, de acordo com a Constituição. Confirmou, de novo, qualquer afirmação sobre a capacidade do governo, especialmente de seu chefe, de causar confusão e prejudicar o País.
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