Após perder cargo nos EUA, consultor ultraconservador estimado por Bolsonaro busca reerguer imagem e criar escola de populistas na Itália
Fernando Eichenberg / O Globo
PARIS - Em queda de prestígio nos Estados Unidos desde que foi destituído do cargo de estrategista-chefe da Casa Branca pelo presidente Donald Trump, em 2017, o ultraconservador Steve Bannon procura reerguer sua imagem e refazer sua rede de influência se lançando como protagonista de uma união de forças populistas na Europa. Na opinião de analistas, no entanto, os dirigentes europeus não parecem seduzidos pelas ambições do guru americano, que goza de alta estima da parte do presidente Jair Bolsonaro e de seus filhos.
Bannon tem multiplicado encontros com expoentes da direita radical e populista europeia nestes tempos de campanha eleitoral para o Parlamento Europeu. Em seu périplo pelo continente nos últimos meses não faltaram aparições ao lado de líderes da direita radical populista e nacionalista como o italiano Matteo Salvini, da Liga; a francesa Marine Le Pen, da Reunião Nacional (RN); o húngaro Viktor Orbán, do Fidesz; o britânico Nigel Farage, do Partido do Brexit, ou o flamengo Tom Van Grieken, doVlaams Belang.
Escola para populistas
Além de tentar influenciar na aliança dos principais partidos que partilhariam de sua causa ultraconservadora, por meio de seu grupo O Movimento, baseado em Bruxelas, sua ideia é transformar o monastério medieval italiano de Trisulti, construído no século XII e distante cem quilômetros de Roma, em uma escola para formação de populistas de extrema direita. Em sua empreitada, Bannon se associou ao britânico Benjamin Harnwell, fundador do centro de estudos conservador Dignitatis Humanae Institute e próximo do meio católico tradicional.
Para Patrick Moreau, especialista em extremismos políticos do Centro Nacional de Pesquisas Sociais (CNRS, na sigla em francês), Steve Bannon é uma “cortina de fumaça” na Europa:
— Aqui, até agora, ele não deu certo — resume. — Chegou com um desconhecimento profundo da geopolítica da extrema direita europeia. Veio com um modelo trumpista, que não é especialmente apreciado na Europa. Quando se veem suas atividades na Itália e em outros países, são basicamente direcionadas a um conservadorismo católico fundamentalista. Ele tem um conteúdo ideológico muito acentuado, enquanto a maior parte dos partidos, como a RN ou o AfD (Alternativa para a Alemanha), não tem isso muito claro. A questão ideológica estava em curso entre os identitários, foi útil por um curto período, mas, fundamentalmente, não lhes interessa.
Na sua avaliação, Bannon “vive de sua aura trumpista” e, por enquanto, nada acrescentou ao campo populista e nacionalista europeu:
— Ele trata com líderes que têm poder político e funções administrativas. E ele não tem nenhum poder, somente ideias. Posa para fotos ao lado deles para atrair a mídia. A meu ver, não tem nenhuma influência teórica, nem no campo ideológico de Viktor Orbán ou de outros. Não trouxe nada de novo.
Seu projeto foi ainda prejudicado, segundo Moreau, pela mudança de percepção do nacional-populismo europeu em relação a Trump e também ao Brexit:
— No começo, a direita populista era muito pró-Trump, acreditava na “América forte” etc, enfim, houve um potencial de simpatia. Mas isso não pegou nas populações. Os alemães, como quase a totalidade dos europeus, detestam Trump. Em relação ao Brexit, se pensava que seria o início de uma grande onda de destruição da UE, mas depois se deram conta de que as pessoas percebiam isso de forma muito negativa.
O analista político Gilles Ivaldi, especialista em movimentos de extrema direita, avalia a influência de Bannon junto aos europeus igualmente como “discreta”. Para ele, o americano está entre aqueles que procuram viabilizar a aliança da direita nacional populista, mas sem ocupar um papel central.
— Hoje, o verdadeiro artesão disso é, na minha opinião, Matteo Salvini. É ele quem tem a popularidade, a notoriedade e o peso político para efetivar essa união. É próximo de Orbán e dos poloneses, tem relações privilegiadas com os alemães, austríacos, finlandeses. Bannon está na manobra, mas tem um papel de segundo plano, não está sob os holofotes.
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