segunda-feira, 27 de maio de 2019

Rosiska Darcy de Oliveira: Do medo vem o perigo

- O Globo

Nas redes a comunicação anônima incita à violência e dispensa a ética

Desconfio que os valentões que maltratam mulheres, odeiam gays, desprezam negros, atacam jornalistas, estudantes, professores, intelectuais e artistas, fantasmam comunistas e globalistas são pessoas que têm medo. Medo de si mesmos, do que os ameaça mais que tudo: a liberdade dos outros de não ser como eles.

São tanto mais empedernidos em suas convicções quanto maior é o medo de tudo que possa, por qualquer caminho, da sexualidade às ideias, abalar sua frágil segurança. Seguem cegamente um chefe para não ter que se construir em tempos de mudança e incerteza quando as convicções a que se apegam como náufragos são boias murchas que mal se sustentam. São violentos e inflexíveis porque têm medo de exercer a inefável arte de viver.

É tão mais fácil colocar uma etiqueta única na imensa diversidade de que é feito o povo brasileiro e alimentar o ódio do outro. Mais fácil destruir do que construir, insultar do que argumentar, semear o conflito do que buscar o consenso. Aquecer-se entre adeptos radicais do que governar para todos.

Bolsonaro chegou ao poder pelas redes, com promessas de enfrentar a corrupção e a violência. A corrupção irrompe em sua vizinhança mais próxima. A violência prospera enquanto as armas se multiplicam e ninguém sabe onde vão parar.

O Congresso não se dobra aos seus Diktats , o STF criminaliza a homofobia. A mídia exerce o seu dever de informar e criticar, a sociedade protesta na rua. Todos idiotas e comunistas?

Nas redes a comunicação anônima incita à violência e dispensa a ética. A verdade não é o fato, é o que serve para destruir o adversário. A truculência é a cortina de fumaça que encobre a incompetência para governar.

A economia parada e o desemprego que aumenta. Cai o apoio ao governo. O mundo real existe a despeito das fanfarronices e imposturas virtuais, de autoria de robôs bem programados. O rei está nu.

Crescem os fantasmas persecutórios, o medo da verdade — um governo autoritário e incapaz —e sua crescente solidão. É desse medo que vem o perigo.

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