- Folha de S. Paulo
Adorado por evangélicos, Bolsonaro não deu um pio sobre a violência contra religiões de matriz africana
Primeiro presidente da República a prestigiar a Marcha para Jesus, Bolsonaro foi mais adorado que o próprio Jesus. Num palanque, usando uma camisa promocional do evento (uma versão VIP da camisa, com a marca do jacaré), ele pareceu mais gordinho. Colete à prova de balas? Diante da multidão concentrada na zona norte de São Paulo, fez com as mãos o conhecido gesto de atirar e voltou a defender o decreto inconstitucional de liberar porte e posse de armas. Foi aclamado, aos gritos de “Mito” e “Messias”.
Fiquei na dúvida. Será que aqueles cristãos defendem fuzilamentos em vez de paz e amor? Ou estavam dando sua concordância à declaração do presidente de que a população precisa se armar para impedir que governantes assumam “o poder de forma absoluta”? (Não, ele não falava da situação da Venezuela, mas do Brasil mesmo.)
Bolsonaro retribuiu a força que recebeu das igrejas durante a eleição. Embora colecionando desmandos e trapalhadas, ele já pensa em 2022. Hoje os evangélicos são 30% da população e devem crescer ainda mais em importância e estratégia política. A festa de comunhão foi um vale-tudo: bandeiras de Israel, camisas da seleção, figurinos militares, orações para policiais, rejeição à Nossa Senhora Aparecida.
Enquanto um segmento religioso prospera a ponto de tornar seus líderes milionários, outro é perseguido. Bolsonaro —como era aquela história de governar para todos os brasileiros?— até agora não deu um pio sobre o crescimento dos casos de intolerância e violência envolvendo religiões de matriz africana.
Em todo o país, terreiros de candomblé têm sofrido invasões. Homens armados com foices, facões e fuzis agridem os “macumbeiros” e destroem objetos sagrados. Perseguição desse tipo, antes, só nas primeiras décadas do século passado. Quem leu “Tenda dos Milagres”, o romance de Jorge Amado, sabe o quanto estamos regredindo no tempo.
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