Boa perspectiva para a reforma, inflação baixa e possíveis cortes nos juros são alento para a economia
Transformou-se em mantra condicionar qualquer sinal de recuperação da economia à aprovação da reforma da Previdência. Mas é indiscutível que, sem que os agentes econômicos melhorem suas expectativas quanto ao futuro do país, projetos de investimento continuarão nas pranchetas, e mesmo decisões de consumo serão postergadas. Tudo muito compreensível.
Afinal, não se pode deixar de considerar que assusta uma economia cujas contas públicas estão no quinto ano consecutivo em déficit —a meta para este ano é de R$139 bilhões no vermelho —, e a dívida pública de 2010 até hoje saltou de 50% do PIB para próximo de 80%. Um sinal estridente de alerta para o risco de insolvência, a incapacidade de manter os compromissos em dia. O que já acontece com alguns estados e municípios.
A relevância da reforma da Previdência como divisor de águas se confirma com a recepção positiva dos mercados à aprovação do projeto em primeiro turno, na Câmara, com 379 votos, 71 a mais que o mínimo necessário para ser aceita a emenda constitucional.
Um indicador sensível das expectativas dos mercados é o CDS, Credit Default Swap, algo como um seguro adquirido para compensar perdas em moratórias. Não é por acaso que em todos os eventos positivos na tramitação do projeto a cotação do CDScai. Até segunda-feira da semana passada, o título referente ao Brasil havia retrocedido no ano38,98%.Os128 pontos do CDS brasileiro, alcançados depois da primeira aprovação da reforma, das quatro necessárias no Congresso, foram a cotação mais baixa desde 2014, quando o país ainda era avaliado pelas agências internacionais de risco como“ grau de investimento”.Com esta nota, o Brasil estava entre os de mais baixo risco. Essencial para a redução do custo de empréstimos externos e forte argumento a favor de investimentos.
Enquanto a reforma tramita —falta o segundo turno na Câmara, a ser votado logo depois do fim do recesso, em 6 de agosto — forma-se uma conjuntura favorável à retomada dos cortes nos juros, um dos fatores de impulsão do crescimento.
À falta de tração da economia — o mercado financeiro projeta crescimento para este ano de apenas 0,8%, segundo o último Relatório Focus, do Banco Central — acrescente-se uma inflação baixa. A expectativa atual é de 3,78%, abaixo da meta de 4,25%. De perfil conservador, o BC sinaliza esperar sinais mais fortes de que a reforma prosseguirá.
Além de tudo isso, o BC americano (Fed) deve reduzir sua taxa básica, mais um fator que abre espaço para iniciar-se o ciclo de cortes no Brasil. Os atuais 6,5% da Selic devem cair para 5,50% até dezembro, de acordo com o Focus. Que assim seja, porque há indicadores que mostram leve retomada. A geração de empregos formais, por exemplo (408 mil de janeiro a junho).
A provada a reforma e lançada a tributária, entre outras, pode haver uma feliz conjunção de fatores para afinal o PIB apertar o passo e começar a resgatar os 13 milhões de desempregados.
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