O campo parece promissor, devido ao perfil do grupo e do prontuário policial de pelo menos um deles
A descoberta pela Polícia Federal no interior de São Paulo do hacker Walter Delgatti Neto, que afirmou ter invadido aplicativos de mensagens de inúmeras autoridades, incluindo o ministro ex-juiz Sergio Moro, além do procurador Deltan Dallagnol, pessoas-chave na Lava-Jato, requer ampla investigação sobre a fonte de renda dele. Bem como de Suelen Oliveira, do seu marido, Gustavo Santos, e Danilo Marques, ligados a Walter.
Ase sustentara história, o hackeamento nada teria a ver com sofisticados especialistas em invasão eletrônica de privacidades, possivelmente estrangeiros. O fato de o programa invadido ser o Telegram, desenvolvido por um russo, atiçou ainda mais a imaginação.
Mas o que se soube agora é que Walter Delgatti, suposto chefe do grupo, teria usado técnicas simples para invadir celulares e surrupiar incontáveis conversas.
Em vez de espiões, trata-se de pessoas sem renda fixa e, no caso de Delgatti, dono de um sortido prontuário policial: falsificação de documentos — um deles de delegado de polícia —, furto (ou clonagem) de cartões de crédito. Um estelionatário eletrônico.
As finanças do grupo chamam a atenção: o casal Gustavo Santos e Suelen movimentou R$ 627 mil de maneira atípica entre 2018 e 2019, e na casa dos dois foram encontrados R$ 99 mil em espécie.
Não se tem certeza se os recursos são deles mesmos. Já Delgatti ostentava carros importados. Também usaria contas bancárias de outras pessoas, artifício para não ser rastreado. Ao serem inquiridos, dizem “não saber” a origem do seu dinheiro.
Logo, um dos pontos centrais é checar a origem do dinheiro, como o do casal Gustavo Santos e Suelen, que atuaria no mercado da moeda virtual Bitcoin. A atividade de DJ de Gustavo não parece ser a fonte dos recursos, e é estranho alguém que vive no universo das moedas virtuais guardar R$ 99 mil em casa.
A ex-deputada pelo PCdoB Manuela D’Ávila confirma a versão de Walter de que lhe passou os contatos de Glenn Greenwald, do site Intercept. A partir daí, o hacker teria transferido o material para o Intercept sem nada receber em troca, de alguma fonte, apenas por desejar que a sociedade tomasse conhecimento de supostos desvios funcionais de Moro e Dallagnol.
Difícil acreditar, diante do prontuário do próprio hacker. Que as investigações prossigam. O conteúdo do material divulgado até agora tem vida própria e precisa passar por uma perícia, algo facilitado pelo fato de a PF haver apreendido material com o hacker. O ministro Moro, por sua vez, não deveria ter dito que destruiria essas provas, pois só poderá fazê-lo por determinação judicial. E elas têm grande importância.
Já os alegados desvios de Moro e Dallagnol são tema de debates entre juristas que nada veem de incomum nas conversas entre juiz e procurador e aqueles que as consideram uma grave irregularidade, capaz de sustentar reclamação judicial de condenados por Moro, como o ex-presidente Lula. Daí o peso político deste caso.
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