O saldo de crédito dos bancos praticamente não sai do lugar. No fim de junho, o estoque total estava em R$ 3,3 trilhões, com aumento de 0,4% em relação a maio e de 1,2% no semestre. Se for levado em conta que a taxa média das operações subiu 2 pontos percentuais, de 23,2% ao ano em dezembro para 25,2% no mês passado, apenas a apropriação dos juros contribuiu para o aumento da carteira. Nesse ritmo, vai ser difícil atingir a projeção de crescimento do Banco Central (BC).
Depois de ter encolhido 3,5% em 2016 e 0,5% em 2017, na esteira da retração da economia, o crédito voltou a se recuperar em 2018, quando registrou aumento nominal de 5,5%. A expectativa do Banco Central no início deste ano era de que o estoque de empréstimos avançasse um pouco mais e aumentasse 7,2%. Há um mês, porém, o Banco Central reduziu a estimativa de crescimento para 6,5%. Embora a variação acumulada em 12 meses esteja em 5,1%, a previsão do BC parece otimista demais a essa altura do ano.
A desaceleração observada à medida que o ano avançava nas diversas áreas da economia, afetada pelos tropeços no andamento das reformas econômicas, com repercussões negativas também no mercado de trabalho, esfriou a demanda por crédito. Apesar da tramitação da mudança das regras da aposentadoria ter andado, nada indica ainda uma reação capaz de mudar radicalmente o cenário, até porque a desconfiança persiste, com a preocupação com outras reformas.
O que mais está segurando a evolução do crédito é a carteira de empresas, ainda afetada pela contenção das linhas direcionadas, notadamente do BNDES. As operações com pessoas jurídicas encolheram 2,9% no primeiro semestre e parece difícil que revertam essa queda e ainda cresçam 2,5% no ano, como prevê o Banco Central. Anteriormente, a estimativa era de crescimento de 4,1%. Já as operações com pessoas físicas acumulam expansão de 4,5% no semestre, menos da metade dos 9,7% projetados pelo Banco Central.
Ao justificar as estimativas para a expansão do crédito para as pessoas físicas, o Banco Central disse que estavam em linha com a "manutenção de níveis confortáveis de inadimplência e de comprometimento de renda das famílias com serviços financeiros e consideram continuidade do crescimento das principais modalidades de crédito livre (veículos, crédito pessoal e cartão de crédito) em patamares próximo aos atuais".
No entanto, não é bem esse comportamento que os bancos vêm adotando. A taxa média de inadimplência oscilou entre 2,9% e 3% no primeiro semestre, fechando o período nos mesmos 2,9% de dezembro. Apesar de o calote estar inalterado, os tomadores de crédito não registram alívio nos juros praticados. Ao contrário. Na contramão, os juros do crédito subiram. A taxa média passou de 23,2% ao ano em dezembro para 25,2% no mês passado.
Os tomadores de crédito também não foram beneficiados pela queda no custo de captação dos bancos, que está acompanhando o recuo dos juros no mercado futuro em consequência da previsão de queda da taxa básica, a Selic (Valor, 29/7). Em junho, a taxa de captação ficou em 5,6%, com queda de 0,4 ponto percentual em relação a maio. Como a taxa de crédito subiu, o spread aumentou e está no maior patamar desde maio do ano passado. Somente neste ano, o aumento foi de quase 3 pontos percentuais, de 17% em dezembro para 19,6% no mês passado.
O mercado futuro de juros sinaliza que a queda dos custos de captação seguiu neste mês, informa o Valor. A Federação Brasileira de Bancos (Febraban), porém, explicou que, além do custo de captação, diversos fatores influenciam o spread, como a inadimplência, as despesas administrativas e os tributos. A inadimplência, como mostram os dados do Banco Central, segue bem-comportada. O cadastro positivo, um recurso necessário de acordo com os bancos, está sendo implementado. As fintechs de crédito ainda não apresentam uma ameaça consistente.
Por outro lado, os lucros dos bancos, que estão em plena temporada de divulgação dos balanços semestrais, não perdem o fôlego. As instituições que já informaram os resultados até agora mostram ganhos em alta, apoiados nos empréstimos às pessoas físicas, cujos juros são mais elevados e garantem margens mais robustas.
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