Bolsonaro não deveria se dirigir somente ao contingente mais fiel do eleitorado
O presidente Jair Bolsonaro (PSL) ouviu tanto vaias quanto aplausos no Maracanã, na conquista da Copa América pela seleção brasileira neste domingo (7). A divisão da torcida reflete bem os sentimentos divergentes da população captados em nova pesquisa Datafolha.
Segue estável a profunda polarização evidente na eleição atípica de 2018, em que a forte rejeição a Luiz Inácio Lula da Silva (PT) beneficiou o eleito: um terço aprova Bolsonaro (33% de ótimo/bom), outro o deplora (33% de ruim/péssimo).
Há que assinalar, ainda, a terceira parte que o qualifica como regular (31%) ou escolhe dizer que não sabe (2%). São eleitores pendulares, que poderão bandear-se para uma margem ou outra do espectro de opiniões, desequilibrando-o.
Tradicionalmente, o fiel da balança tende a mover-se com os ventos da economia. Embora o presidente possa dar-se por satisfeito com a momentânea calmaria, carregada mais de expectativa que de resultados, seria prudente que divisasse as turbulências à vista.
O otimismo com a situação econômica segue em queda. Nenhum dos parâmetros sondados pelo Datafolha —desemprego, inflação, contas pessoais, situação do país e poder de compra— reagiu além da margem de erro.
O desemprego, que permanece na alta casa de 12%, se faz acompanhar da inflação entre os fatores mais preocupantes. Isso embora economistas não antevejam piora dos índices de preços, o que permite supor que a manifestação decorra de ansiedade com o futuro.
As energias políticas de Brasília têm se concentrado na reforma da Previdência, que não raro enfrenta obstáculos levantados pela própria Presidência em sua relação com o Congresso.
Mesmo que o texto seja aprovado em breve, só uma fé cega pode levar a acreditar que produza efeitos imediatos no cotidiano.
Outro sinal de alerta para Bolsonaro parte dos jovens. Eles temem pelo futuro da educação, entregue a dois ministros tresloucados. A erosão do apoio ao presidente, aí, já faz com que o ensino apareça como terceiro maior problema do país, depois de segurança pública e saúde.
O tema foi mencionado de forma espontânea por 15% dos entrevistados. É seu maior índice obtido pelo Datafolha desde 1996.
O ocupante do Planalto parece acreditar que basta seguir jogando com a agressividade habitual para um contingente relativamente mais rico e mais velho, dentro ou fora do Maracanã, que forma o núcleo de sua popularidade.
Se tivesse algum pendor para a prudência, Bolsonaro atentaria para os 61% de brasileiros a avaliar que fez menos do que dele se esperava no período —e para o fato de carregar a pior avaliação de um presidente em primeiro mandato.
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