- Valor Econômico
Inadimplência caiu e bancos privados têm folga no balanço
O perfil da dívida das empresas brasileiras está sofrendo uma transformação radical. Muito se tem dito sobre a redução dos desembolsos do BNDES e o retorno das grandes empresas ao mercado de capitais, via venda de ações ou emissões de debêntures. Mas o mais interessante é a tendência de queda da participação do sistema financeiro nacional no total da dívida tanto entre grandes empresas como entre as pequenas e médias (PMEs).
O diretor sênior da Fitch Ratings, Claudio Gallina, apresentou no "Brazilian Banking Conference 2019" levantamento indicando que, em 2014, 52% do total da dívida de grandes empresas era com o sistema financeiro nacional, ou seja, com os bancos instalados no Brasil, inclusive o BNDES. No ano passado, esse percentual caiu a 38%. A tendência é a mesma para PMEs: de 72% em 2014 para 52% em 2018 (ver gráfico nesta página). Em contrapartida, crescem o mercado de capitais e, mais ainda, a dívida externa, considerando aí empréstimos entre a matriz no exterior e as subsdiárias no Brasil, além de títulos emitidos lá fora.
Em parte, a queda da participação do SFN reflete a retração dos bancos na concessão de crédito em anos recentes, por causa dos calotes de grandes empresas e pela percepção de maior risco. Mas a mudança do perfil é também reflexo da baixa redução do spread bancário no período, apesar da queda na taxa básica de juro observada a partir da segunda metade de 2017. Há de se considerar, também, a valorização do dólar ante o real no período analisado.
Noves fora, a avaliação de Gallina é de que há espaço para o crédito crescer no sistema financeiro. A capitalização do sistema bancário, de 17,8% em março de 2019, está bem acima da estabelecida pelas regras de Basileia (8% em 2019) e, por si só, permitiria a liberação, no limite, de até R$ 2 trilhões em créditos. Além disso, a inadimplência do setor corporativo caiu, especialmente entre as micro, pequenas e médias empresas (ver gráfico) e os bancos estão com alto retorno sobre o patrimônio líquido médio (ROAE).
Apesar de Banco do Brasil (BB) e Caixa também apresentarem melhora em seus índices de eficiência, obtida com corte de custos e fechamento de agências, a expectativa da Fitch é que o crescimento do crédito seja capitaneado pelos bancos privados. Bradesco e Itaú estão com espaço no balanço para isso (índices de capitalização de 18,1% e 16%, respectivamente). BB, Caixa e, principalmente, BNDES, estão sendo cobrados para devolver recursos ao Tesouro, e isso deve reduzir o crescimento do crédito em suas carteiras.
Entre os bancos médios, há um novo desenho em curso e a evolução das carteiras de crédito não está tão clara. Após um hiato de quase dez anos, eles voltaram a realizar novas emissões de ações em bolsa (caso do Inter, em 2018) e conseguiram alterar o perfil de sua captação. Em 2014, segundo dados da Fitch, os investidores institucionais respondiam por 17% da captação de depósitos a prazo dos bancos médios, e os clientes (pessoas físicas e jurídicas), por 83%. Em 2018, a participação dos institucionais caiu a 5%.
A popularização de plataformas de investimento como a XP e a segurança de cobertura do Fundo Garantidor de Créditos (FGC) ampliaram o alcance dos Certificados de Depósito Bancário (CDB) dessas instituições. "O desafio será fazer crescer a base de captação e conseguir renovar essas aplicações", informa a Fitch, acrescentando que, no caso dos bancos digitais, o desafio será oferecer uma operação completa.
Bancos digitais têm colocado foco em investimentos, conta corrente e cartões e em crédito a pessoas físicas. Vários deles planejam ampliar a operação para passar a oferecer crédito a empresas. Um gestor de recursos chama a atenção, entretanto, para o que ele considera uma vulnerabilidade entre os bancos médios: alguns ficaram dependentes da captação de CDB realizada via XP. "É um funding arriscado para realizar operações de crédito de prazo mais longo."
Com 33% de respostas positivas, segundo a pesquisa DataFolha divulgada ontem, o presidente Jair Bolsonaro se consolida como o pior avaliado no ranking dos presidentes brasileiros em primeiro mandato, em tão curto tempo de gestão (pouco mais de seis meses). Com a rejeição, coincidentemente, no percentual de 33% dos entrevistados, Bolsonaro colhe os frutos das trapalhadas acumuladas desde janeiro, movidas por "teorias conspiratórias" com abundância de inveja, ciúme e ignorância. Em tramas sucessivas envolveram-se o pai, os filhos, assessores políticos e militares, além de agentes palpiteiros externos. Um cenário comparável ao enredo das peças de Shakespeare.
A intriga tem sido responsável, em boa parte, pela alta rotatividade de pessoal na Esplanada de Brasília. Até ontem, as demissões em diferentes áreas do governo federal somavam três ministros e cerca de 30 funcionários do alto e médio escalões, em órgãos tão diversos em suas funções, quanto aos perfis dos demitidos, civis e militares, conservadores e progressistas.
O Ministério da Educação foi o mais atingido, com a exoneração de um ministro, dois secretários-gerais, dois presidentes do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) e vários funcionários de cargos administrativos intermediários. O último a ter a cabeça ceifada, como se sabe, foi o Ministro-chefe da Secretaria de Governo da Presidência da República, general Carlos Alberto dos Santos Cruz. É possível que a lista não pare por aí. Vai depender da postura do presidente em meio às maquinações de bastidor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário