quinta-feira, 11 de julho de 2019

Leandro Colon: Votação da reforma é vitória para o governo, e não do governo

- Folha de S. Paulo

Aprovação da Previdência prova força do presidente da Casa, Rodrigo Maia

A aprovação do texto-base da reforma da Previdência em primeiro turno na Câmara é sem dúvida uma vitória para o governo de Jair Bolsonaro, mas não propriamente do governo dele.

A votação prova a força do presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e confirma que o toma lá dá cá com emendas parlamentares está mais vivo do que nunca. A velha política entrou em campo no governo Bolsonaro na hora da decisão.

Maia e seus aliados do centrão mostraram ao Palácio do Planalto que a reforma saiu do papel na hora em que eles bem entenderam.

Em seis meses, Bolsonaro fracassou na formação de uma base coesa de apoio e na articulação política do Planalto com os congressistas.

Fragilizado e sem alternativa, terceirizou a Maia a responsabilidade de construir um placar favorável. E assim provavelmente também será na reforma tributária, passo seguinte da agenda econômica legislativa.

É legítimo que Bolsonaro queira faturar politicamente o resultado desta quarta-feira (10) e tentar mostrar uma força política que não tem.

Mas o presidente sabe que não teria sucesso sem a boa vontade de Maia. Do Palácio do Planalto, ele teve de assistir ao discurso do líder do PSL (seu partido), delegado Waldir (GO), no plenário da Câmara, em que seu nome foi ignorado e o de Maia, exaltado. “Sem Rodrigo Maia, nós não chegaríamos a este momento”, disse o deputado. Maia chorou.

A aprovação do primeiro turno confirma que o fisiologismo está impregnado na cultura legislativa. Bolsonaro pode esbravejar à vontade, dizer para seus seguidores que não cedeu. Fato é que a reforma não avançaria sem a abertura do balcão de emendas liberadas por seu governo.

O Planalto teve, sim, de liberar dinheiro público aos deputados em troca de votos (e a fatura deve aumentar nas próximas fases da tramitação).

Não foi a passeio que os ministros da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, e da Secretaria de Governo, o general Luiz Eduardo Ramos, bateram perna no Congresso horas antes da votação.

Eles tiraram da gaveta as planilhas de emendas parlamentares e prometeram recursos aos deputados.

Nada mais antigo no modelo político.

O apoio popular é outro fator que contribui para o avanço na mudança nas regras das aposentadorias e para o enfraquecimento de sua oposição no Congresso.

Conforme mostrou o Datafolha, a reforma deixou de ser rejeitada pela maioria dos brasileiros. Caiu de 51% para 44% a parcela dos que são contrários e subiu de 41% para 47% a fatia dos brasileiros favoráveis à proposta em votação no Congresso.

No governo de Michel Temer, por exemplo, deputados se penduravam no discurso de que uma reforma tão complexa enfrentava resistências em suas bases eleitorais.

Em maio de 2017, quando a reforma ganhava corpo e voto na Câmara, 71% dos brasileiros não queriam a mudança nas regras. O cenário adverso, como diz a pesquisa, agora mudou e a reforma avançou.

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