- O Globo / Folha de S. Paulo
Há um forte cheiro de pirotecnia nessa nova série de revelações do ex-ministro
Foi assim no ano passado: faltavam seis dias para o primeiro turno e o juiz Sergio Moro divulgou um anexo da colaboração do ex-ministro Antonio Palocci à Polícia Federal. Era um pastel de vento em cujo recheio havia uma única informação (Lula organizou uma caixinha de fornecedores da Petrobras e colocou o comissário como gerente), mas faltava a investigação. Quem pagou? Como? Para quem foi o dinheiro?
O efeito da "mão de Deus" no gol de Moro foi sentido no escarcéu que acompanhou a revelação. Hoje, graças ao site The Intercept Brasil, conhecem-se as mensagens trocadas pela turma da Lava Jato em torno do assunto.
Uma semana antes, no dia 25 de setembro, referindo-se a Moro e às confissões de Palocci, um procurador escreveu: "Russo [apelido do juiz] comentou que embora seja difícil provar, ele é o único que quebrou a 'omertá' petista". (Falava do código de silêncio do mafiosos.)
Uma procuradora acrescentou: "Não só é impossível provar como é impossível extrair algo da delação dele".
Um terceiro procurador foi além: "O melhor é que fala até daquilo que ele acha que pode ser que talvez seja. Não que talvez não fosse".
Dois dias depois da divulgação do anexo por Moro, uma procuradora perguntava: "Vamos fazer uso da delação do Palocci?"
Outro respondeu: "O que Palocci trouxe parece que está no Google".
Segundo outro procurador: "O acordo é um lixo, não fala nada de bom (pior que anexos Google)".
Fez-se um banquete com o lixo e o resto é história. Dez meses depois, Antonio Palocci volta a atacar com um novo vazamento de sua colaboração para a Polícia Federal. Moro é ministro da Justiça, e uma parte da turma da Lava Jato está sendo confrontada com suas próprias malfeitorias, mas pode ser coincidência.
Desta vez o comissário teria contado que a Ambev, uma das maiores empresas do país, fez "pagamentos indevidos" a Lula e Dilma Rousseff. Não se conhecem os anexos e, portanto, não se pode saber que pagamentos são esses, nem como foram feitos. Inicialmente, a Ambev disse que não comentaria o caso (o que foi má ideia), mas se sabe que durante três anos ela pagou legalmente um total de R$ 1,2 milhão à empresa de consultoria de Antonio Palocci. Como essa firma era um lindo biombo, nesse caso os doutores da Ambev foram comprar pasta de dentes na Cracolândia.
Há um forte cheiro de pirotecnia nessa nova série de revelações de Palocci. Quanto mais cedo forem conhecidos os anexos, melhor.
Levando areia para o vento pirotécnico, Palocci teria contado que em 2002 o ditador líbio Muamar Kadafi deu o equivalente a US$ 1 milhão ao PT.
Para quem olha esse caso de fora, a primeira pista de que havia algo de estranho na relação de Lula com Kadafi surgiu em 2003, quando ele foi a Trípoli e disse que "jamais esqueci os amigos que eram meus amigos quando eu ainda não era presidente".
Palocci mencionou o dinheiro líbio pela primeira vez no final de 2017, quando negociava sua colaboração com o Ministério Público. Os procuradores acharam que suas revelações tinham muito pirão e pouca carne e ele foi se confessar na Polícia Federal. Lá, voltou a falar do caso. É razoável supor que em dois anos o comissário tenha sido capaz de lembrar como esse dinheiro chegou ao Brasil e a quem foi entregue.
Na semana passada, Palocci se tornou o primeiro comissário a ganhar o direito de andar livre pelas ruas (de tornozeleira eletrônica). Ex-quindim da plutocracia, comprovadamente tornou-se um milionário durante o consulado petista.
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