domingo, 25 de agosto de 2019

Merval Pereira: A fake news do presidente Bolsonaro

- O Globo

‘Ameaça’ de não dar mais entrevistas diz muito sobre uma personalidade que se mostra a cada dia mais autoritária

O presidente Jair Bolsonaro insiste na fake news de que eu teria recebido R$ 375 mil por uma única palestra paga pelo Senac. Colocou ontem no seu twitter a falsa informação e, numa entrevista coletiva, desafiou os jornalistas a publicarem sua “denúncia”.

No dia 5 de Janeiro, seu filho 02, o vereador Carlos Bolsonaro, havia publicado a mesma mentira em seu twitter. Como o governo mal começara, e se tratava do filho do presidente, resolvi responder apenas no twitter, esclarecendo o que realmente se passou. O 02 parecia ter se convencido da falsidade da informação que divulgara, e apagou-a.

Ontem, seu pai voltou ao mesmo assunto, numa demonstração de má-fé. Deixou claro, naquele seu linguajar característico, que se tratava de uma desforra por causa das minhas críticas ao seu governo: “Acabei de postar aí uma matéria sobre o Merval Pereira. Palestra por 375 mil reais, tá legal? Tá ok? 375 pau uma palestra no Senac, tá ok? Façam matéria agora. Se vocês não fizerem nenhuma matéria sobre isso amanhã no jornal eu não dou mais entrevista pra vocês, tá legal? Tá combinado? Toda a imprensa. Tá combinado? E tem mais nome também, eu só botei um nomezinho hoje. Não estou perseguindo ninguém. Agora, gastar dinheiro público pra palestras, aí é brincadeira. Fica escrevendo o tempo todo lá críticas, criticar mas mostrar que é uma pessoa isenta, né? Imprensa isenta. Se não fizerem matéria escrita amanhã nos jornais, não tem mais entrevista pra vocês aqui, tá legal?”

Deixar de dar entrevistas se jornalistas não fizerem o que ele deseja? Essa “ameaça” seria apenas risível, não dissesse ela muito de uma personalidade que a cada dia se mostra mais autoritária. E desgostosa de poder muito, mas não poder tudo. Não é o desejo do presidente que satisfaço agora. É por respeito aos meus leitores que esclareço novamente o episódio, usando desta vez a coluna. Em março de 2016, eu e diversos outros jornalistas e economistas fomos contratados para participar do Mapa Estratégico do Comércio, da Fecomércio do Rio.

O projeto previa 15 palestras em diversas cidades do Estado do Rio, analisando as perspectivas políticas e econômicas naquele ano de eleições municipais. Os R$ 375 mil de que fala o presidente, portanto, não se referem a uma palestra, mas às 15 previstas para os anos de 2016 e 2017.

Na verdade, não recebi esse total, pois o programa foi interrompido, e acabei dando 13 palestras, que foram noticiadas nos jornais locais, em informes publicitários da Fecomércio do Rio, em sites, e filmadas. As palestras eram abertas a representantes do comércio, da indústria, da educação, políticos locais, estudantes.

Foram os seguintes os locais das palestras: Angra dos Reis (30/3); Miguel Pereira (14/4); Três Rios (28/4);Volta Redonda (5/5/2016); Barra do Pirai (19/5); Teresópolis (16/6); Valença (9/6); Barra Mansa (14/7); Rio das Ostras (28/7) Petrópolis (11/8); Rio de Janeiro (7/12/); Cabo Frio (16/3/ 2017); Niterói (25/5/2017).

Cada palestra teve a respectiva nota fiscal, incluindo os impostos devidos, e foi declarada no meu Imposto de Renda.

Taokei?

Apagando incêndio
Depois de um primeiro momento mais emocional, a realidade fez com que o governo brasileiro colocasse o pé no chão e tratasse o caso das queimadas na Amazônia como deveria ter feito desde o início, com moderação e propostas concretas.

O presidente Bolsonaro fez um pronunciamento sóbrio na televisão, seu temperamento irascível domado pelo teleprompter. O Comandante do Exército, general Edson Pujol, também colocou panos quentes, ressaltando que não há motivos para nos sentirmos ameaçados, pois a França é um país de tradição democrática e de liberdade.

Também na Europa a proposta do presidente francês Emmanuel Macron de boicotar o acordo da União Europeia com o Mercosul não encontrou respaldo. Angela Merkel, da Alemanha, Boris Johnson, da Inglaterra, entre vários líderes europeus, não apoiam a proposta. Em vez disso, há um consenso de unir esforços para ajudar os países amazônicos a superar essa situação.

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