Steven Levitsky/ cientista político, uma das principais atrações da Bienal do Livro, o coautor do best-selller ‘Como as democracias morrem’ alerta para os perigos da polarização
Bolívar Torres | O Globo
Professor de ciência política em Harvard, o americano Steven Levitsky tem uma teoria sobre o seu livro, “Como as democracias morrem”: onde a democracia vai mal, a obra vai bem. Escrita em parceria com Daniel Ziblatt (também professor na universidade americana), é um best-seller por aqui, com mais de 35 mil cópias vendidas. As crises e polarizações políticas no Brasil serão justamente alguns temas de que Levitsky tratará na Bienal do Livro. Uma das principais atrações do evento, ele participa no dia 7 de setembro, às 13h, no pavilhão azul do Riocentro, do painel “Sobre autoritarismos e democracias”. Ele dividirá o palco com a historiadora Lilia Schwarcz e o jornalista Marcelo Lins.
• No seu livro, você alerta que os novos líderes autoritários usam a democracia para chegar ao poder. Mas e quando eles se elegem sem esconder o discurso autoritário na campanha? Isso significa que os eleitores querem autoritarismo?
Não é incomum que queiram, especialmente em países onde a democracia não vai bem, como é o caso do Brasil. Mas tudo indica que, nas últimas eleições, o eleitorado brasileiro se guiou mais pela raiva do que pelo desejo de autoritarismo. Pessoas votaram em Bolsonaro em parte porque ele prometeu atacar a elite e o status quo. Mas é fato que há uma emergência de gerações que, trinta anos após a primeira onda de democratização pelo mundo, não lembram mais do autoritarismo. Pesquisas em países como a Polônia, Espanha e Brasil mostram que essa geração pósautoritarismo está esquecendo as lições deixadas por pais e avós, o que é trágico.
• Que tipo de ilusão o autoritarismo vende a seus defensores?
Pessoas acham que um homem forte no poder pode diminuir o crime. Mas as ciências sociais já mostraram que isso não é verdade. Ditaduras não aumentam a segurança pública, assim cono não melhoram a economia nem diminuem a corrupção ao tirar os políticos e colocar os militares. Regimes autoritários são inclusive mais corruptos que democracias. A única coisa que trazem é repressão e falta de liberdade.
• Por que agora líderes extremistas s e sectários conseguem se eleger?
É a grande pergunta que todos estamos tentando responder. Nos EUA e no Brasil, a polarização extrema parece ser um fator. Entre 2014 e 2018, a política ficou muito polarizada no país. Há um número razoável de brasileiros que são bolsonaristas ferrenhos, mas ele só foi eleito porque até mesmo pessoas que não gostam tanto assim dele realmente odiavam o outro lado. Isso permite extremos.
• Mas o que causa essa polarização?
Internet e redes sociais definitivamente agravam o problema, mas não são a causa. Já havia polarização fatal no passado. Os EUA dos anos 1960 não precisaram do Twitter para gerar níveis extremos de polarização. No nosso livro, argumentamos que as divisões raciais são um fator importante na polarização atual dos EUA. Elas partem de uma reação de brancos das camadas menos escolarizadas a uma sociedade cada vez mais diversificada.
• Se as pessoas não voltarem a negociar suas diferenças pacificamente, o que pode acontecer?
É uma pergunta que fazemos o tempo todo, já que nossa pesquisa foca num cenário de polarização extrema, em que a política é capaz de fazer as pessoas literalmente matarem umas às outras. Nós nos perguntamos a toda hora como evitar isso. A triste realidade é que, em vários casos, políticos não descobrem a tempo uma maneira de reverter o curso do desastre. Foi só depois de uma guerra civil e décadas de ditadura franquista que os socialistas, o centro e a direita espanhóis aprenderam a fazer direita de outra forma.
• E o que pode ser feito para evitar novos desastres?
Há alguns exemplos recentes em que políticos conseguiram aprender antes que fosse tarde demais. É o caso da Tunísia. O partido religioso moderou suas políticas para evitar que sofresse um golpe, como aconteceu no Egito. Até agora, porém, não vejo muita evidência de que a elite política brasileira esteja fazendo isso. Não vejo o PT ou a fragmentada centro-direita do Brasil fazendo autocrítica.
• Muitos dos líderes extremos se elegem porque contam com a ajuda de figuras do establishment que acreditam poder controlá-los. Mas, em seu livro, você mostra que a ideia do “adulto na sala” nunca dá certo...
Temos um capítulo que mostra como, nos anos 1930, o partido conservador representou o adulto na sala, mas se mostrou incapaz de controlar Hitler. Alertamos enfaticamente para que o establishment, seja o setor empresarial ou partidário, não embarque em projetos extremistas. Nos EUA, estão enfraquecendo nossas instituições e o futuro da democracia em troca de benefícios a curto prazo, como cortes nos impostos. Suspeito que seja o caso também no Brasil. Em julho de 2018 me reuni com empresários brasileiros e avisei: “Vocês não irão conseguir controlar Bolsonaro, não entrem nessa”.
Um comentário:
putugal tem um regimem coruptocom Costa. E mais, putugal e o pior meda no mundo agora e sempre!
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