- Folha de S. Paulo
Estilo de comunicação de Bolsonaro e aliados é um desafio para o Itamaraty
As declarações explosivas do presidente Jair Bolsonaro contra líderes internacionais e suas insistentes interferências em processos internos de outros países deixaram o Brasil num incômodo isolamento na América Latina.
O presidente eleito da Argentina, Alberto Fernández, é o inimigo da vez de Bolsonaro, mas até mesmo lideranças da direita no continente marcam distância do presidente brasileiro.
Sebastián Piñera, do Chile, já o fizera quando dos ataques de Bolsonaro contra a ex-presidente Michelle Bachelet. Agora Luis Lacalle Pou, a promessa de uma guinada à direita, rejeita o apoio oferecido por Bolsonaro ao lançar algo na linha de “por sorte no Uruguai não se decide pelo que pensam os brasileiros”.
A estreia da relação Bolsonaro-Fernández —que, em condições normais, deveria ser regida ao menos por protocolares desejos de êxito— não poderia ter sido pior.
Há no governo brasileiro quem veja na defesa de Fernández do Lula Livre uma provocação desnecessária, mas as manifestações que partiram de Brasília soam a agressões infantis: do chanceler que fala em “forças do mal celebrando” a volta do kirchnerismo à publicação preconceituosa de Eduardo Bolsonaro sobre o filho de Fernández, Estanislao, que se veste de “drag queen” e pratica cosplay.
Os primeiros efeitos da desconfiança mútua começam a aparecer. Bolsonaro adiantou que não vai à posse de Fernández. Já o argentino preferiu fazer sua primeira viagem internacional ao México, ignorando seu vizinho mais importante.
O estilo de comunicação de Bolsonaro e de seus aliados é um desafio para o Itamaraty, até há pouco guiado pela linguagem comedida da diplomacia. Agora, manter os seguidores do bolsonarismo mobilizados pelas redes sociais parece ser a estratégia principal. Mesmo que para isso o Brasil fique falando sozinho. Ou que o preço a pagar seja um clima de hostilidade política com um parceiro estratégico.
Nenhum comentário:
Postar um comentário