- O Globo
Crivella é o prefeito do Rio mais impopular das últimas décadas. Ele deve apostar na agenda
Marcelo Crivella chegou lá. Depois de três anos no cargo, ele se tornou oficialmente o prefeito do Rio mais impopular das últimas décadas. De acordo com o Datafolha, 72% dos cariocas consideram sua gestão ruim ou péssima. Apenas 8% aprovam o desempenho do bispo como administrador.
A pesquisa traz más notícias para quem sonha com o segundo mandato. Crivella supera os 60% de rejeição em todas as faixas de idade, renda e escolaridade. Entre os eleitores com ensino superior, seu índice negativo alcança os 84%. Neste grupo, apenas três em cada cem cariocas aprovam o prefeito.
O bispo encontra dificuldades até no seu público mais fiel. Entre os evangélicos neopentecostais, que incluem os seguidores da Igreja Universal, ele é aprovado por 26% e reprovado por 49%. O dado mostra que a irritação com o prefeito está falando mais alto que a identificação com o pastor.
Crivella foi eleito depois de quatro campanhas frustradas à prefeitura e ao governo do Estado. Em 2016, aproveitou a onda conservadora pós-impeachment. Apelou a temas como drogas e aborto para derrotar Marcelo Freixo no segundo turno. O então prefeito Eduardo Paes também o ajudou, ao lançar um candidato pouco competitivo que terminou em terceiro lugar.
Agora Paes e Freixo largam na frente para a disputa de 2020. Em desvantagem, Crivella indica que vai recorrer mais uma vez à agenda de costumes. A tentativa de censurar um gibi na Bienal do Livro, a pretexto de proteger as famílias cristãs, foi um ensaio da guerra santa que pode vir por aí.
O prefeito também aposta na ajuda de Jair Bolsonaro. Nesta semana, ele pediu socorro ao presidente para tapar os buracos no caixa. Saiu com a promessa de R$ 150 milhões para quitar atrasados na Saúde. Falta saber se o capitão aceitará pedir votos para um aliado tão impopular.
Na quinta-feira, Crivella disse que a crise na Saúde é “falsa”. De acordo com o Datafolha, o discurso não convence a maioria dos cariocas. Para 68%, a área é o maior problema de sua gestão.
Em três anos, o Rio viu o prefeito comprar brigas com os vereadores, com as escolas de samba, com os meios de comunicação e com a Justiça. A sucessão de crises expôs um político avesso à transparência e hostil às tradições da cidade. Crivella conseguiu se indispor até com o Rei Momo, alvejado na sua cruzada contra a festa pagã.
Na nova ofensiva contra a imprensa, o bispo mostrou que não separa o público do privado. Ele se outorgou o direito de barrar jornalistas no Palácio da Cidade, como se o prédio público fosse uma extensão da sua casa.
A confusão de papéis já havia ficado clara quando o prefeito tentou empregar o próprio filho no secretariado. A nomeação foi anulada pelo Supremo Tribunal Federal. Tempos depois, Crivella foi flagrado ensinando pastores a furar filas em serviços públicos. Sua frase, “Fala com a Márcia”, virou CPI e marchinha de carnaval.
Apesar do recorde de rejeição, não convém tratar o bispo como carta fora do baralho. Como lembra um futuro adversário, ele ainda conta com a máquina da prefeitura, com a igreja e com a emissora do tio. Numa disputa fragmentada, pode ser o suficiente para levá-lo ao segundo turno.
conservadora e no possível apoio de Bolsonaro para tentar a reeleição
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