- O Globo
O governo vai torrar R$ 40 milhões para falar bem de si mesmo. A ofensiva publicitária coincidiu com as buscas em endereços ligados a Flávio Bolsonar
O fenômeno é conhecido em Brasília: quando o governo vai mal nas pesquisas, os governantes concluem que o problema está na comunicação. Ontem o Planalto lançou outra campanha publicitária para exaltar a gestão de Jair Bolsonaro. Vai torrar mais R$ 40 milhões para falar bem de si mesmo.
A ofensiva foi apresentada com pompa, em solenidade no salão nobre do palácio. “Vamos ecoar o que há de bom no governo”, anunciou o secretário Fábio Wajngarten. Ele apresentou 49 filmetes de propaganda. Disse que a campanha, batizada de “Agenda Positiva”, vai “resgatar o orgulho e o sentimento de pertencimento do brasileiro”.
O homem da comunicação de Bolsonaro voltou a atacar a imprensa. Alegou que o chefe seria vítima de “uma insana e abominável perseguição”, movida por veículos “sem limites e sem escrúpulos”. “Vivemos, presidente, numa guerra aberta contra seu governo, seus ministros, o senhor e a sua família”, afirmou.
Wajngarten apresentou um vídeo que constrangeria os marqueteiros oficiais da Coreia do Norte. Na peça, o presidente abraça populares, visita uma criancinha doente e sorri ao lado de Donald Trump. O vídeo termina com uma foto da família Bolsonaro seguida pela logomarca do governo federal. É uma afronta explícita ao princípio da impessoalidade, que veta a exaltação de políticos com dinheiro público.
Apesar do esforço, o secretário não conseguiu vencer o campeonato de bajulação. No outro discurso da tarde, o ministro Luiz Eduardo Ramos informou que está vivendo “momentos muito felizes” com Bolsonaro. “Em que pesem todas as críticas infundadas, presidente, o senhor está arrebentando”, derramou-se. O general também elogiou o brilho dos olhos do chefe, “esses olhos azuis que eu conheci em 73”. Acrescentou que fazia a mesura “de maneira hétera” (sic). Ah, bom.
Para quem pretendia vender uma versão cor de rosa da realidade, o Planalto escolheu um dia infeliz. Horas antes da pajelança, o Ministério Público do Rio fez buscas em 24 endereços ligados a Flávio Bolsonaro e assessores. Os investigadores já rastrearam R$ 2 milhões em depósitos para Fabrício Queiroz, acusado de operar um esquema de rachadinha no gabinete do primeiro-filho. Num dos filmetes apresentados ontem, o locutor diz que o governo está livrando o país da corrupção. Diante do que parece vir por aí, seria melhor maneirar na propaganda.
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