- Por Isadora Peron - Valor Econômico
Para aliados, ex-juiz teve um ano de aprendizado sobre os meandros políticos de Brasília
BRASÍLIA- Nome mais popular do governo, Sergio Moro termina o ano à frente do Ministério da Justiça e Segurança Pública com uma série de realizações na área do combate à criminalidade, mas colecionando reveses na relação com o Congresso e com o próprio presidente Jair Bolsonaro - o mais recente deles foi a manutenção, por Bolsonaro, do chamando juiz de garantias no pacote anticrime.
Aliados do ministro, porém, destacam que foi um período de aprendizagem e que ele vai chegar em 2020 mais “ambientado” a Brasília - especialmente após superar a crise causada pela divulgação das mensagens trocadas com procuradores da força-tarefa Lava-Jato. Os vazamentos trouxeram questionamentos sobre a sua atuação como juiz.
Apesar de a popularidade de Moro ter caído após a série de reportagens publicada pelo site “The Intercept Brasil”, ele termina o ano como o ministro mais bem avaliado do governo, com 53% de aprovação - segundo dados divulgados em dezembro pelo Datafolha.
Moro também desponta como um dos principais personagens para a eleição presidencial de 2022, apesar de negar que pretenda ser candidato. Seu discurso tem sido de que, como ministro, não teria outra escolha a não ser apoiar a reeleição de Bolsonaro. Também nega que tenha intenção de ser vice em uma eventual chapa liderada pelo presidente.
De perfil reservado, Moro chegou a ligar para o senador Alvaro Dias (Podemos-PR), seu aliado do Paraná, e pedir para que ele “desmentisse” a notícia de que iria se filiar ao Podemos. O senador, no entanto, não cansa de repetir a aliados que a legenda está de portas abertas para Moro e que, caso o ex-juiz decida se filiar, ele não poderia “discutir com a realidade” e abriria mão de ser novamente candidato à Presidência para apoiar o conterrâneo.
Em outra frente, também há quem afirme que uma indicação para a vaga que abrirá no próximo ano no Supremo Tribunal Federal (STF) não está totalmente descartada, apesar de hoje Moro não figurar entre as primeiras opções de Bolsonaro - e contar com a antipatia de ministros da Corte e de uma parcela do Senado, que tem de chancelar o nome escolhido pelo presidente.
Ao apresentar o balanço de um ano à frente da pasta, Moro destacou a aprovação do pacote anticrime pelo Congresso. Ele, no entanto, reconheceu que o texto era uma versão desidratada do projeto que enviou em fevereiro. O mais recente revés veio com a decisão de Bolsonaro de não vetar o trecho que cria o juiz de garantias - proposta incluída por deputados e criticada por Moro.
Integrantes da cúpula da pasta destacam que Moro se envolveu diretamente na articulação para aprovar as medidas. Além de receber diariamente parlamentares em seu gabinete, ele também passou a incluir em sua agenda almoços com bancadas e jantares em casa de deputados, um ritual que nenhum político pode deixar de seguir em Brasília. “Ele entendeu. Ele está bem ambientado no contexto político de Brasília. Teve um período de adaptação, natural, mas ele se conscientizou do papel que ele representa e da força política que ele tem, e que ele pode usar isso a seu favor”, diz um aliado.
Além do pacote anticrime, Moro costuma destacar a queda de 22% no número de homicídios. Apesar de dividir o crédito com os governos estaduais, o ministro aponta que a decisão de transferir chefes de facções criminosas para presídios federais, onde o controle é mais rígido, foi uma das ações que surtiram efeitos nos índices de criminalidade.
Para o próximo ano, a batalha escolhida por Moro é aprovar, no Congresso, a volta da prisão após condenação em segunda instância. Considerada um dos pilares da Lava-Jato, o cumprimento antecipado da pena foi revisto pelo STF, o que beneficiou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que foi posto em liberdade.
O ministro também vai continuar investindo em ações para combater o tráfico de drogas e o que chama de descapitalização das organizações criminosas, com a apreensão e venda de bens de traficantes.
Moro aposta ainda nos resultados do Centro Integrado de Operações de Fronteira, inspirado no modelo americano Fusion Center, inaugurado este mês em Foz de Iguaçu. O ministro também pretende expandir o programa “Em Frente Brasil”, que foi instalado inicialmente em cinco cidades e tem como objetivo diminuir a criminalidade violenta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário