- O Globo
O governador faz parte de uma geração de políticos viciados em redes sociais. A pretexto de prestar contas aos cidadãos, eles passam o dia fazendo propaganda de si mesmos
Como se não bastassem a água suja da Cedae e as enchentes no Noroeste Fluminense, Wilson Witzel arranjou outra crise para começar o ano. Sem pedir autorização, o governador gravou e divulgou uma conversa com o vice-presidente Hamilton Mourão. A atitude enfureceu o general e o presidente Jair Bolsonaro.
No domingo, Bolsonaro fez o primeiro sermão. “O que se trata por telefone tem que ser reservado”, disse. Ontem Mourão bateu mais firme. “Ele diz que foi fuzileiro naval. Eu acredito que ele esqueceu a ética e a moral que caracterizam as Forças Armadas”, esbravejou.
O telefonema fatídico durou pouco mais de um minuto. Com o celular no viva-voz, Witzel ligou para Mourão, relatou danos causados pela chuva e fez um pedido genérico de ajuda. O governador montou a cena para se promover nas redes sociais. Faltou avisar ao general que ele participaria do teatro como coadjuvante.
O presidente e o vice se irritaram por motivos distintos. Bolsonaro rompeu com Witzel, que sonha em substituí-lo, e se sentiu atropelado pela ligação para o general. Mourão tenta estreitar laços com o capitão, e se viu lançado numa intriga com potencial para afastá-los.
O governador faz parte de uma geração de políticos viciados em redes sociais. A pretexto de prestar contas aos cidadãos, eles passam o dia fazendo propaganda de si mesmos no Twitter e no Instagram. A turma parece atualizar o lema do presidente Washington Luís. No lugar do “Governar é abrir estradas”, entrou em campo o “Governar é postar stories e caçar likes”.
O vídeo de Witzel tem um lado positivo: prova que o governador finalmente voltou ao Estado. Na primeira quinzena do mês, ele continuou de férias na Disney enquanto a população recebia água barrenta.
Para os políticos que precisam lidar com ele, o ex-juiz passou o recado de que não é um interlocutor confiável. O eleitor do Rio já sabia. Na campanha, Witzel disse ter doutorado em Harvard, prometeu só usar a rede estadual de saúde e jurou que continuaria a morar no Grajaú. Depois da eleição, ele admitiu a fraude no currículo, foi flagrado num hospital particular e se instalou com a família no Palácio Laranjeiras.
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