quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

Vinicius Torres Freire - O ano 2019 ainda não terminou bem

- Folha de S. Paulo

Economia fraquejou em novembro, mas crescimento medíocre de 2% ainda está à vista

O baticum do Carnaval já está na TV, tem bloco e até selvageria momesca nas ruas e em alguns palácios, mas os principais números da economia em novembro de 2019 acabaram de sair apenas nesta semana. Deram uma fraquejada.

Pelo menos nesta quarta-feira (15), o povo dos mercados financeiros recolheu o bumbo que vinha batendo para a recuperação da economia. A Bolsa caiu 1%, o dólar foi a R$ 4,18, os muxoxos habituais quando entra um cisco de realismo no olho do pessoal das bases da praça financeira.

Não aconteceu nada grave. O crescimentozinho do Pibinho continua, mas desacelerou um pouco no fim do ano. Além do mais, dados de um mês apenas não dizem lá grande coisa. Podem ser apenas ruído.

Mesmo com a fraquejada, se a economia continuar no ritmo em que vem desde o segundo trimestre de 2019, ao fim de 2020 o PIB (Produto Interno Bruto) terá crescido 2,2%. Ou seja, a luta e a mediocridade continuam.

O cisco no olho mais recente foi o desempenho sem graça do comércio em novembro. O problema principal foi na venda de carros, que desacelera desde a metade de 2019.

Na semana passada, confirmou-se que a indústria continua regredindo ao ritmo de mais de 1% ao ano.
O setor de serviços não decola, soube-se também nesta semana, com piora crescente nos transportes.

Como escreveram analistas econômicos do Itaú, “a atividade econômica permanece em uma tendência gradual de aceleração, mas com alguns sinais mais fracos na margem, em novembro e dezembro”.

Aceleração “gradual” significa passar de crescimento do PIB de 1% ao ano para 2% ao ano, por aí. Uma pobreza remediada.

Vamos saber do jeitão de 2020 com mais certeza apenas lá por abril. O primeiro trimestre pode ter uma ressaquinha da melhorazinha recente, mas a fraquejada não pode ser demasiada, para evitar desânimos e outros acidentes.

“Os primeiros dados de 2020 tendem a mostrar alguma diminuição do ritmo de crescimento, com o fim dos efeitos do estímulo adicional da liberação do FGTS. Mesmo assim, o crescimento (na margem) deve ser próximo a 0,5%, voltando a acelerar nos trimestres seguintes”, segundo a análise de economistas do Bradesco.

Os indicadores recentes já ressuscitaram a conversa de que taxa básica de juros da economia, a Selic, pode cair de 4,5% ao ano para 4%.

Se por mais não fosse, a expectativa de inflação para os próximos 12 meses voltou a cair para 3,6%, apesar do bife de ouro e do feijão de prata. Os demais preços continuam “comportados”, na verdade com uma cara ainda meio deprimida, por causa do Pibinho.

A nova diretoria do Banco Central até agora vem fazendo o serviço, sem firulas e conversa fiada, baixando os juros desde que assumiu. Caso a expectativa de inflação continue no nível em que está, terá de dar uma aparada na Selic a fim de evitar uma alta de um tico na taxa real de juros. Mas, francamente, isso não vai fazer diferença nenhuma para o crescimento, embora poupe uns trocados valiosos no pagamento dos juros da dívida pública colossal.

A gente anda esquecida, mas o arrocho no gasto público vai continuar, o governo não consegue colocar na rua concessões de obras, o setor externo não vai ajudar (ao contrário), o desemprego cai em ritmo quase imperceptível e o salário médio cresce ao ritmo anual do valor de gorjeta.

Há condições para um crescimento de uns 2%, e por ora é só. Isso se o governo não cometer alguma atrocidade maior também na economia.

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