quarta-feira, 15 de abril de 2020

Economia global terá contração de 3% em 2020, prevê FMI

Será a maior recessão global desde a Grande Depressão de 1929, segundo os economistas da instituição

Por Marsílea Gombata | Valor Econômico

SÃO PAULO - O choque causado pelo coronavírus levará o mundo à maior recessão desde a Grande Depressão neste ano. Será a primeira vez desde então que economias avançadas, emergentes e em desenvolvimento estarão em recessão sincronizada, alerta o Fundo Monetário Internacional (FMI).

Em seu relatório Panorama Econômico Mundial (World Economic Outlook), divulgado nesta terça-feira, o Fundo afirma que, como resultado da pandemia, a economia global deverá contrair-se 3% neste ano, uma contração muito pior do que durante a crise financeira de 2008/09. Em sua projeção anterior, de janeiro, o Fundo esperava expansão de 3,3% para a economia global neste ano.

Uma queda de 3% no crescimento global é um cenário base, no qual se espera que a pandemia desapareça no segundo semestre do ano e que as medidas de contenção possam ser gradualmente levantadas e a atividade econômica, consequentemente, normalizada. Se isso ocorrer, a projeção é que o mundo cresça 5,8% em 2021.

No blog do Fundo, a economista-chefe do FMI, Gita Gopinath, observou que “desde a Grande Depressão tanto as economias avançadas quanto os mercados emergentes e as economias em desenvolvimento estão em recessão”.

Para este ano, a projeção é de contração de 6,1% nas economias avançadas e de 1% nos mercados emergentes. O Fundo espera contrações neste ano de 5,9% dos EUA, 7% da Alemanha, 7,2% da França e 9,1% da Itália. O FMI afirma que, em algumas partes da Europa a epidemia foi tão severa quanto na Província de Hubei, na China, onde o coronavírus começou.

O Japão deve ter crescimento negativo de 5,2% e o Brasil, de 5,3%. A China deve crescer 1,2%. Espera-se redução da renda per capita em mais de 170 países. A perda acumulada para o PIB global entre 2020 e 2021 pode chegar a US$ 9 trilhões.

No relatório, o Fundo afirma ainda que a crise atual – a qual chama de Grande Confinamento – é sem precedentes pela combinação de três características: a duração do choque, o alto nível de incerteza e os desafios dos governos. “Nas circunstâncias atuais, há um papel muito diferente para a política econômica. Em crises normais, os formuladores de políticas tentam incentivar a atividade econômica estimulando a demanda agregada o mais rápido possível. Desta vez, a crise é em grande parte consequência das medidas de contenção”, diz o documento.

No documento o Fundo afirma que, “embora sejam essenciais para conter o vírus, os bloqueios e restrições à mobilidade estão causando um impacto considerável na atividade econômica”. Além disso, ressalta, os efeitos adversos na confiança de empresários e consumidores provavelmente pesarão mais nas perspectivas econômicas.

FMI: Queda dos preços das commodities coloca mais pressão sobre emergentes
Com a crise do coronavírus, os mercados emergentes e as economias em desenvolvimento passaram a enfrentar não apenas uma crise de saúde, mas um forte choque da demanda externa, condições financeiras muito mais restritas e queda dos preços das commodities, que terão impacto importante na atividade dos países exportadores. O diagnóstico é do Fundo Monetário Internacional (FMI) em seu relatório Panorama Econômico Mundial (World Economic Outlook), divulgado nesta terça-feira.

No documento, o Fundo afirma que o grupo formado por mercados emergentes e economias em desenvolvimento deve ter contração de 1% neste ano. A América Latina deve cair 5,2%, prevê o Fundo.

Segundo o FMI, indicadores como produção industrial, vendas no varejo e investimento em ativos fixos sugerem que a contração da atividade econômica na China no primeiro trimestre chegue a 8%, na variação anual. “Mesmo com uma recuperação acentuada no restante do ano e um apoio fiscal considerável, a economia deverá crescer 1,2% em 2020”, diz o relatório, que prevê crescimento de 1,9% para a Índia e contração de 5,5% para a Rússia.

Segundo o Fundo, a América Latina deve encolher 5,2% neste ano, com quedas previstas de 5,3% para o Brasil e 6,6% para o México. No Oriente Médio e Ásia Central a contração deve ser de 2,8%, e na África do Sul, 5,8%.

Em países nos quais o setor informal tem um peso importante na economia, alerta o Fundo, programas de apoio que já existem devem ser expandidos e novos programas, introduzidos. O documento destaca a importância de políticas de amortecimento do choque para famílias e empresas como transferências de renda, subsídios salariais, isenção de impostos e extensão ou adiamento do pagamento de dívidas, como fizeram países como China e Itália, ao suspender temporariamente pagamento de impostos para os setores mais afetados economicamente pelo coronavírus.

No blog do Fundo, a economista-chefe do FMI, Gita Gopinath, afirma que “os mercados emergentes e as economias em desenvolvimento enfrentam desafios adicionais, com reversões sem precedentes nos fluxos de capital, à medida que o apetite pelo risco global diminui, e pressões cambiais”.

“Além disso, várias economias entraram nesta crise em um estado vulnerável, com crescimento lento e alto nível de dívida”, lembra Gopinath.

O Fundo observa que os casos de covid-19 reduzem a oferta de mão-de-obra, enquanto quarentenas, bloqueios regionais e distanciamento social restringem a mobilidade, interrompem as cadeias de suprimentos e diminuem a produtividade. “Demissões, queda de renda, medo de contágio e aumento da incerteza fazem com que as pessoas gastem menos, provocando mais fechamentos de negócios e perda de empregos. Há fechamento de parcela significativa da economia”, observa.

No documento o Fundo observa ainda que a crise atual terá de ser tratada em duas fases: uma de contenção e estabilização e outra de recuperação. “Em ambas as fases, a saúde pública e as políticas econômicas têm um papel crucial”, conclui.

O FMI argumenta também que uma recuperação parcial é projetada para 2021, mas, como muitos países enfrentam uma crise em várias frentes, com choque no setor de saúde, interrupções econômicas, demanda externa em queda, queda no fluxo de capital e colapso nos preços das commodities, “os riscos de um cenário pior predominam”.

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