O velho Partido Comunista Brasileiro (PCB) nunca esteve no poder central. Mas encarnou, como nenhuma outra agremiação, a meu juízo, os interesses do nosso povo.
Sob essa ótica, convém recordar sua atuação na formação da Aliança Nacional Libertadora, praticamente o primeiro partido de massas do Brasil, nos anos 30.
De outra parte, fez uma defesa constante da reforma agrária, e isso desde o início da década de 20.
Deu ainda um apoio decisivo à memorável campanha do Petróleo é Nosso.
Não podemos esquecer, tampouco, sua ação na defesa das terras indígenas, sobretudo durante a criação do Parque do Xingu.
Travou uma luta obstinada pela democracia, contra todas as ditaduras que enlutaram nosso país.
Mais: como abordar a cultura brasileira sem o PCB? E o mesmo diríamos das lutas sindicais. Os comunistas nunca se envolveram com a corrupção ou o desvio de recursos públicos.
No momento em que o Brasil atravessa uma fase tão adversa, precisamos recordar outra batalha vitoriosa do PCB, inscrita na Constituição de 1988: a criação do Sistema Único de Saúde (SUS), graças em boa tarde ao empenho do deputado e médico sanitarista Sérgio Arouca, meu amigo, a quem reverencio aqui. Aliás, a própria ideia do SUS partiu do Arouca.
O PCB nunca esteve no poder central, é verdade. Mas fez muito mais do que isso: sempre esteve ao lado do povo e das lutas pela cidadania. Foi da sociedade para o Estado. Esse o seu ponto de partida. Outros grupos estiveram no Estado e pouco fizeram pela sociedade, apesar de se valerem de toda uma retórica. A trajetória do PCB nos lembra que hegemonia é condução de processo.
*Historiador, autor de mais de uma dezena de livros em que se destacam "O Memorial de
Palmares" e "O caminho do alferes Tiradentes"
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