- Folha de S. Paulo
Se demagogia de Bolsonaro lhe rendesse algo, seriam migalhas de recuperação
Jair Bolsonaro erra até quando age em interesse próprio. Mais do que peças do confronto com seu ministro da Saúde, suas idas ao encontro de aglomerações, e já também ao comércio, são uma caça popularesca de porções do apoio corroído, até entre seus eleitores.
Se essa demagogia lhe rendesse alguma coisa, seriam migalhas de recuperação nos aglomerados pequenos. Mas nem isso, se quem o cerca só o faz por ser ainda seu apoiador. O que esses aglomerados têm a dar, de fato, é o que, neste momento, os lúcidos procuram evitar.
O mais recente passeio virótico de Bolsonaro basta, por si só, para negar outra apressada conclusão da imprensa. Depois de ver uma celebração do golpe de 1964 como recuo de Bolsonaro na disputa com o ministro Mandetta, agora o chamado jornalismo político propaga transferência de poder real, “a caneta”, de Bolsonaro para a tropa de generais palacianos. No caso representada por Braga Netto, general da Casa Civil.
Assim sendo, ou Bolsonaro se expõe contra a segurança presidencial incumbida aos militares, e portanto seu poder sobre os generais não se alterou; ou os generais concordam com a exposição demagógica, como têm concordado passivamente com todos os atos tresloucados de Bolsonaro e do trio filial. Aí incluídos, para o pasmo interno e internacional, os desatinos contra a Constituição e contra os interesses do país.
Quando se fala em poder de Bolsonaro, convém não esquecer, se está falando também do poder ilegítimo e real dos seus filhos maiores, por ele dotados de autoridade para tratar ou dar ordens a ministros e a outros níveis governamentais. E mesmo a representar o governo ou o próprio país em relações externas, oficiosas e oficiais.
Excetuado, na crise de saúde pública, o ministro Luiz Henrique Mandetta, no nível mais alto do governo não há distinções notáveis, “núcleo duro”, “os ideológicos”. Essas são designações criadas no jornalismo ou, menos, por políticos.
Weintraub é aceito por todos, Fabio Wajngarten, Ernesto Araújo, Augusto Heleno, Damares Alves, Carlos e Eduardo e Flávio Bolsonaro, Onyx, e por aí em diante, são aceitos por todos, na psicopatia aplicada ao governo, e aceitam todos. Tal como se dá nas várias entidades, aqui e no exterior, que levam o nome de Pinel.
URGÊNCIA
As estimativas de aumento veloz das infestações por coronavírus, a partir deste meado de abril, coincidem com o agravamento da penúria já constatado entre os que se viravam como “trabalhadores informais”, agora sem clientela, e os sem trabalho algum.
A fome já chegou a muitas famílias. Mais de 20 milhões de pessoas desses segmentos estão fora do contingente que, diz o governo, receberá R$ 600 daqui a três dias.
Primeira observação a respeito: em dinheiro ou em produtos —o primeiro é mais versátil, produtos nem sempre coincidirão com o mais necessário ao recebedor— doações são a única possibilidade de atenuar os atrasos governamentais e de complementar a ajuda oficial de óbvia insuficiência.
Observação complementar: os que necessitam não têm como tomar a iniciativa no socorro. A iniciativa é dos doadores. Nossa. Sua.
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