Decano vê busca por ‘ditadura militar’
Celso de Mello, relator do inquérito que investiga se presidente tentou interferir na PF, afirma que bolsonaristas ‘odeiam a democracia’
Rafael Moraes Moura | O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - O decano do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Celso de Mello, comparou o Brasil à Alemanha de Hitler e, em mensagem reservada enviada a interlocutores no WhatsApp, disse que bolsonaristas “odeiam a democracia” e pretendem instaurar uma “desprezível e abjeta ditadura”. Procurado, o ministro alegou ao Estadão que a manifestação foi “exclusivamente pessoal”, “sem qualquer vinculação formal ao STF”.
Celso de Mello é o relator do inquérito que investiga as acusações, levantadas pelo ex-ministro Sérgio Moro, de que Bolsonaro tentou interferir na Polícia Federal. O ministro se aposenta em novembro, quando completa 75 anos, abrindo a primeira indicação que Bolsonaro poderá fazer para o tribunal.
O tom usado pelo decano surpreendeu colegas do STF, que apontam que a fala deu munição ao Palácio do Planalto e abriu brecha para o presidente da República apontar até mesmo a suspeição do ministro na condução do caso.
O comentário de Celso de Mello foi disparado na véspera de um protesto de aliados do presidente que contou com faixas que pediam “intervenção militar”.
“Guardadas as devidas proporções, o ‘ovo da serpente’, à semelhança do que ocorreu na República de Weimar (19191933), parece estar prestes a eclodir no Brasil!”, escreveu o decano do STF.
“É preciso resistir à destruição da ordem democrática, para evitar o que ocorreu na República de Weimar, quando Hitler, após eleito por voto popular e posteriormente nomeado pelo Presidente Paul von Hindenburg, em 30/01/1933, como chanceler (primeiro-ministro) da Alemanha, não hesitou em romper a inovadora Constituição de Weimar, impondo ao País um sistema totalitário de poder viabilizado pela edição, em março de 1933, da lei (nazista) de concessão de plenos poderes que lhe permitiu legislar sem a intervenção do Parlamento germânico !!!! ”, afirmou.
E completou: “Intervenção militar, como pretendida por bolsonaristas e outras lideranças autocráticas que desprezam a liberdade e odeiam a democracia, nada mais significa, na novilíngua bolsonarista, senão a instauração no Brasil, de uma desprezível e abjeta ditadura militar !!!! ”.
Fascistoides. Há duas semanas, Celso de Mello classificou como “bolsonaristas fascistoides” dois homens que foram presos por ameaçar de morte juízes, promotores e procuradores do DF.
O procurador-geral da República, Augusto Aras, e o presidente do Conselho Nacional de Procuradores-Gerais (CNPG), Fabiano Dallazen, informaram em nota ontem que o Ministério Público está preocupado com a situação do País, mas que “cumprirá com os seus deveres constitucionais na salvaguarda da ordem jurídica que sustenta as instituições do País”.
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