Aconselhado por militares e aliados, presidente inicia conversas com o Supremo
Por Fabio Murakawa | Valor Econômico
BRASÍLIA - A perda do monopólio das ruas, com as manifestações antibolsonaristas do domingo, acendeu um alerta no Palácio do Planalto, empurrando o presidente da República a um diálogo com o Supremo Tribunal Federal (STF) a fim de evitar uma crise institucional cujas consequências são imprevisíveis.
Aconselhado por ministros militares e alguns de seus aliados mais próximos, Jair Bolsonaro decidiu baixar o tom belicoso com que vinha se referindo a decisões da Corte e desestimular manifestações como as que vêm ocorrendo invariavelmente nos fins de semana com a sua participação.
Segundo fontes do governo, já há conversas informais com o STF visando arrefecer os ânimos e encontrar uma solução.
Nos últimos dias, e nesse contexto, o presidente conversou por telefone com os ministros Dias Toffoli e Alexandre de Moraes. Também têm atuado como conselheiros e interlocutores de Bolsonaro os ministros Walter Souza Braga Netto (Casa Civil) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo).
A participação de Bolsonaro, ontem, na posse de Moraes no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ainda que por videoconferência, foi um gesto do presidente em favor do diálogo com o Judiciário.
Bolsonaro e seus aliados, porém, também esperam sinalizações do STF. O que mais irrita o presidente e seu entorno são decisões monocráticas como a do próprio Moraes, que no fim de abril barrou a nomeação de Alexandre Ramagem para o cargo de diretor-geral da Polícia Federal.
O Planalto acredita que decisões graves como essa, embora tenham amparo legal, devem ser sempre chanceladas em plenário.
Essa sugestão foi dada pelo ministro do STF Marco Aurélio Mello, no início de maio, quando a polêmica sobre Ramagem estremeceu as relações entre STF e Planalto.
“O presidente tem falado com alguns ministros, dentro da independência entre os Poderes, para que haja uma pacificação”, diz uma fonte próxima a Bolsonaro. “Essas decisões monocráticas, quando se referirem a alguma coisa menor, não têm problema. Mas é muito ruim apenas um ministro barrar uma nomeação como a do diretor-geral da PF.”
Um militar que despacha no Planalto disse que as manifestações opositoras, como as vistas em São Paulo, no Rio e em outras cidades brasileiras no fim de semana, não são um problema em si. Mas refletem o acirramento da tensão entre os Poderes.
“Nós [governo] temos percebido que a coisa é mais ampla [do que manifestações de oposição]. Trata-se de não gerar crises institucionais. É preciso encontrar uma solução nesse nível”, disse. “É preciso haver sinalizações do STF, do governo e do Congresso para não chegarmos a situações extremadas. As ruas são reflexo disso aí.”
Grupos antibolsonaristas, que se classificam como pró-democracia ou antifascistas, já marcaram novos atos para domingo. Bolsonaro, porém, estimulou seus seguidores a não irem às ruas no fim de semana.
“Deixa eles sozinhos no domingo”, disse Bolsonaro a fãs anteontem no Palácio da Alvorada. “Eu não coordeno nada, não sou dono de grupo. Não participo de nada. Só vou prestigiar vocês, que estão me apoiando, fazem um movimento limpo, decente, pela democracia, pela lei e pela ordem. Eu apenas compareço.”
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