- O Globo
Ministros admitem que o presidente comete erros, mas discordam mais da forma do que do conteúdo. Ecoa no governo previsão feita por Mandetta
A visão de dentro do governo Bolsonaro é de que o ex-ministro Abraham Weintraub prejudicava muito. O presidente o defendia, mas a maioria dos ministros civis e militares o define com palavras como “doido” ou “idiota”. Esse último ato teria dado a impressão de que o presidente arquitetou um plano contra uma lei americana, me disse um ministro. Bolsonaro é criticado por suas declarações, mesmo por pessoas que estão próximas, mas ao mesmo tempo o presidente convenceu a equipe de boa parte das suas teses, como a de que o Supremo estaria invadindo prerrogativas do Executivo.
Mais um ruído está marcado para acontecer com o pedido, ontem, feito pela Polícia Federal ao decano Celso de Mello para ouvir o presidente no inquérito que investiga a suspeita de interferência na PF. Há uma expectativa de que Bolsonaro responda por escrito. Mas o ministro Celso de Mello, em decisão recente, conforme escrevi aqui no dia 7 de maio, registrou seu entendimento de que o presidente, o vice-presidente, os presidentes da Câmara e do Senado têm essa prerrogativa, pelo artigo 221 do Código de Processo Penal, mas apenas quando são testemunhas. O decano escreveu: “Caso estejam na condição de pessoas investigadas ou acusadas não terão acesso a tal favor legal.” Sendo assim, Bolsonaro seria ouvido presencialmente.
No entorno do presidente o que se diz é que o ministro Celso de Mello deveria ser impedido de continuar à frente desse inquérito depois de ter sido divulgada a mensagem dele fazendo comparação entre o clima na Alemanha, no período que antecedeu ao nazismo, e o Brasil atual.
Quando se conversa com integrantes do governo é possível ouvir críticas ao presidente, mas mais à forma do que ao conteúdo. Acham que Bolsonaro não deveria ter feito as afirmações dando a impressão de que arquiteta um golpe, como o “está chegando a hora” ou a declaração feita na manifestação em frente ao QG do Exército, em Brasília, de que “as Forças Armadas estão conosco”. Mas há um forte apoio entre os ministros militares e civis à interpretação de que houve invasão da prerrogativa do Executivo, no caso do veto à nomeação de Alexandre Ramagem, por exemplo.
Hoje, na verdade, essa é a menor das preocupações. Há outros fantasmas rondando o Planalto. Um deles, o inquérito das fake news. Mas o de preocupação mais imediata é o da prisão do Queiroz, ainda mais tendo sido na casa do então advogado de Flávio e do presidente. O que se fala no governo sobre esse episódio é que esse é um problema de Flávio Bolsonaro e não de corrupção do governo Bolsonaro. Difícil separar, até porque a família sempre teve os mesmos códigos, as mesmas convicções e os mesmos métodos. Queiroz sempre foi homem de confiança do pai, antes de ser o chefe de gabinete do filho. A presença frequente de Frederick Wassef no Planalto e no Alvorada mostra que não há separação fácil neste caso.
Na questão da pandemia, o entendimento no entorno do presidente é que ele tem razão de se preocupar com a economia, porque será uma grande tragédia em termos de quebradeira de empresas e de desemprego. A flexibilização, no entanto, só pode ocorrer — me disse um ministro — se for com protocolos corretos. Mas ouvi críticas às declarações do presidente de que era uma “gripezinha”. Até porque ainda ecoa internamente a previsão feita pelo ex-ministro Mandetta.
— Ele disse, quando ainda estava no governo, que em junho nós teríamos 50 mil mortos. Eu achei que ele estava exagerando — admitiu um ministro.
A avaliação interna é que o auxílio emergencial foi muito mais importante para o país, para as famílias e para as economias dos estados, do que o governo consegue comunicar. Chegou retorno inclusive de governadores da oposição, do Nordeste, das vantagens do auxílio. E por isso defende-se a sua extensão, mas em valor menor. Dizem que foi uma boia lançada no meio de uma tempestade no mar. Ela não pode ser retirada de repente, mas o país não tem capacidade fiscal de manter o mesmo valor. Claro que os ministros mais próximos do presidente criticam a imprensa. Ela é, segundo me disse um ministro, parcial, exagera as más notícias e dá pouco destaque às boas. Contudo, a avaliação é de que o presidente erra mantendo esse clima de permanente confronto.
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