- Folha de S. Paulo
Até quando a cor da pele será uma sentença de morte neste país?
É imperioso voltar ao tema, tratado por esta colunista, quase um mês atrás.
A cena gravada por um celular ecoa o martírio de George Floyd: "I can't breathe". Desta vez, aconteceu em Carapicuíba, São Paulo. Um policial militar aperta o joelho sobre o pescoço do rapaz negro, Gabriel, de 19 anos, imobilizado no chão. Gabriel agita as pernas em desespero. Desmaia duas vezes. Felizmente, o jovem sobreviveu. Os policiais responsáveis pela "abordagem" ficarão "afastados das ruas" até a conclusão das apurações.
Outro Gabriel, 22 anos, em Salvador, saía do banco quando foi preso por policiais militares. Seu crime? É negro, tem tatuagens e o cabelo pintado de loiro. Foi confundido com um assaltante. Uma mobilização pelas redes sociais conseguiu libertá-lo. Os dois rapazes com nome de anjo sobreviveram. Outros não tiveram a mesma sorte.
Em São Paulo, Guilherme, negro, 15 anos, foi encontrado morto com dois tiros. Também teria sido confundido com um ladrão. Os suspeitos são policiais militares que estariam fazendo "bicos" em segurança privada.
No Rio Grande do Sul, outro exemplo do nosso racismo à brasileira combinado com violência policial. Em abril, o engenheiro negro Gustavo Amaral, 28 anos, estava a caminho do trabalho quando foi parado numa barreira na estrada. O "padrão" se repetiu. Ele foi confundido com um assaltante e morto com um tiro disparado por um policial militar. Segundo o portal GaúchaZeroHora, que teve acesso ao inquérito da Polícia Civil, o policial agiu "em legítima defesa imaginária".
Na maioria de casos como esses, os policiais são temporariamente afastados das ruas, durante as investigações. Isso basta para que os comandos das corporações, governos estaduais e a sociedade façam de conta que estão enfrentando o problema. Meses depois, os policiais acabam voltando e, incentivados pela impunidade, continuarão o massacre cotidiano da juventude negra.
Até quando a cor da pele será uma sentença de morte no Brasil?
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