Hamilton Mourão precisa superar vários obstáculos na proteção da Amazônia, e o mais difícil é Bolsonaro
Pela posição hierárquica, o conhecimento que tem da região e a capacidade de dialogar, o vice-presidente Hamilton Mourão era a pessoa mais indicada que Bolsonaro poderia escalar para gerenciar a maior ameaça já havida de retaliações contra o Brasil decorrentes de crimes ambientais cometidos na Amazônia.
Hamilton Mourão, que, general da ativa, comandou tropas de combate na selva em São Gabriel da Cachoeira (AM), assumiu a presidência do Conselho da Amazônia e é deste posto que tem mantido contatos com representantes de grandes empresas internacionais e nacionais, preocupadas com os danos que a destruição da floresta pode causar em seus negócios de exportação de grãos e carnes, alvos a serem atingidos por boicotes disparados por fortes movimentos de defesa do meio ambiente. O Planalto não deve ter sido alertado de que os partidos verdes são dos que mais crescem na Europa. Se foi avisado, não levou a sério.
O vice-presidente tem uma difícil missão, porque precisa convencer grandes e bem informadas empresas globais de que o mesmo governo que tem patrocinado um ciclo de alta destruição será capaz de fazer justo o contrário. Em maio, por exemplo, os alertas de desmatamento na Amazônia acionados por satélites do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) abrangeram 829 quilômetros quadrados, a maior área já registrada nos cinco anos da série histórica do indicador. Havia crescido 12% em relação a maio do ano passado.
Depois de uma reunião ontem do Conselho, Mourão, em entrevista, reconheceu que é preciso “recuperar a capacidade operacional” do Ibama e do ICMBio, para que voltem a investigação e a punição dos crimes ambientais, detectados ou não pelos satélites. O vice-presidente justifica os problemas operacionais por um grande número de aposentadorias nos dois órgãos. É notório, porém, inclusive com depoimentos prestados por servidores dos dois institutos ao Ministério Público, que a máquina das instituições foi desmontada pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que trabalha junto com Mourão no conselho.
O vice-presidente deseja reativar o Fundo Amazônia, do qual Noruega e Alemanha eram os principais financiadores, mas se retiraram pressionados pelo mesmo Salles, a pretexto de criar uma nova “governança”. Porém, o mecanismo de financiamento de projetos autossustentáveis só será reativado se o país apresentar avanços concretos contra a destruição. Promessas não têm mais credibilidade.
O maior empecilho para o Brasil começar a restabelecer alguma confiança nesta área está na concepção bolsonarista de desenvolvimento para a região, que passa pela exploração maciça e descuidada dos recursos naturais; e, no caso dos índios, pela sua aculturação a qualquer preço. Tudo o que vai em sentido contrário é tachado toscamente de “esquerdismo” e “onguismo”. Mourão tem vários obstáculos a superar, mas o maior é o próprio Bolsonaro.
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