- O Globo
Governo está mandando sinais positivos diante das críticas, que anteriormente eram respondidas com grosserias e atitudes arrogantes
O vice-presidente Hamilton Mourão define sua presença à frente do Conselho da Amazônia como demonstração da preocupação do governo com o meio-ambiente.
Como ele também diz que pretende deixar até 2022 um sistema que reduza o desmatamento e as queimadas na região, é sinal de que caiu enfim a ficha do governo Bolsonaro, mesmo que o presidente ou seu (ainda) ministro do Meio-Ambiente Ricardo Salles não tenham mudado de ideia sobre o tema.
Acredito que não haja mais espaço para Salles neste momento do governo, em que o presidente Bolsonaro se curva às pressões internacionais dos investidores, à opinião pública nacional e internacional. A indicação do vice-presidente Hamilton Mourão para a Comissão da Amazônia mostra que o ministro não é a pessoa correta para estar na posição neste momento.
Mesmo que ambientalistas continuem achando a visão do governo restrita e inadequada, o fato é que ele está mandando sinais positivos diante das críticas, que anteriormente era respondidas com grosserias e atitudes arrogantes.
Nos depoimentos no Congresso, e nas entrevistas que deu à Globonews no J10 e ontem depois da segunda reunião do Conselho da Amazônia, Mourão disse claramente que o presidente mudou de posição, entendeu que não dá para não preservar a Amazônia e para não fazer uma política sustentável de meio ambiente.
Ricardo Salles fez o que o mandaram fazer, que coincide com o que ele pensa, só que agora essa política ambiental anacrônica já está atingindo a economia brasileira e a imagem do Brasil no mundo. O vice-presidente Mourão dá uma dimensão maior ao Conselho da Amazônia, que coordena as ações de vários ministérios na região. Mudou a situação do mundo e o governo está tentando se adaptar à realidade, assim como já está fazendo também na relação com os poderes Legislativo e Judiciário.
Mourão disse no Senado que o comitê do Fundo Amazônia responsável por aprovar novos projetos, extinto por Ricardo Salles em meados de 2019, voltará assim que houver “luz verde” de Noruega e Alemanha, países doadores do Fundo. A estrutura será a mesma de antes, com 27 membros, e o comitê terá um “caráter estratégico” para definir os projetos prioritários. As questões ambientais “não têm coloração ideológica”, para Mourão, para quem “(...) nós somos Partido Verde pra todo mundo”.
Na reunião no Senado, Hamilton Mourão disse que operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) não podem ser a única opção para combater desmatamento e queimadas na Amazônia, mas admitiu que os militares podem ficar na região até 2022.
Pragmático, e demonstrando uma posição bem menos inflexível do que as autoridades da área adotavam, encorajadas pelo presidente Bolsonaro, Mourão já trabalha com uma possível vitória do democrata Joe Biden nas eleições presidenciais dos Estados Unidos, que aumentaria as pressões sobre o Brasil nas questões ambiental, indígena, de segurança pública.
O governo de Trump, que é o grande sustentáculo da política agressiva e retrógrada de Bolsonaro, sairia de cena, dando lugar a um seu antípoda, por conseguinte também do governante brasileiro. Para o vice-presidente, as relações do Brasil com os Estados Unidos devem mantidas “independentemente do governante”, pela posição americana "como líder do mundo ocidental”.
Foi na entrevista do J10, porém, que o vice-presidente aprofundou mais suas posições sobre temas atuais e polêmicos. Sobre o combate à Covid-19, foi claro: “Ter mais de 70 mil pessoas que já foram a óbito, você não pode ficar batendo palmas para isso e achar que é normal”. Ao mesmo tempo em que tratou de esfriar a polêmica em torno da palavra “genocídio” usada pelo ministro do Supremo Gilmar Mendes para criticar a política de saúde pública durante a pandemia, Mourão também defendeu a posição do presidente Bolsonaro.
Para ele, o presidente fez o que achou melhor dentro do seu ponto de vista, pode ter errado de acordo com os críticos, “mas tudo o que fez foi com a intenção positiva”. O vice-presidente, que é General da reserva, foi direto sobre a presença de militares, alguns da ativa, no governo Bolsonaro: “Não queremos trazer as Forças Armadas para dentro do governo. Não queremos a política indo para dentro dos quartéis e a discussão ‘eu apoio o presidente’, ‘eu sou contra o presidente'”.
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