- Folha de S. Paulo
Nem os botequins mais vagabundos resistem à crise, à pandemia e à prefeitura
Segue a lista de alguns bares e restaurantes que, com a pandemia, fecharam: Hipódromo, Aconchego Carioca, Baródromo, O Navegador, Fellini, Espírito Santa, South Ferro, Kalango, Comuna, Ráscal, Pizzaria Braz, Mosteiro, Esquimó. Outros estão mantidos por aparelhos: Villarino, Fiorentina, Cervantes, Rio Minho, Nova Capela, Luiz, Salete, Toca do Baiacu. Sem contar aqueles menos famosos ou tradicionais, desconhecidos por quem não é local --"os botequins mais vagabundos" lembrados na canção de Aldir Blanc.
Registre-se o falecimento do Almara, os melhores preços da praça da Bandeira, pouso de mendigos, militares da reserva, viciados em turfe, prostitutas. Um espaço no balcão era reservado para vender as bugigangas que frequentadores expunham para ganhar algum.
O fim do Hipódromo —que será substituído por um boteco do tipo pé-limpo (argh!)— atingiu os boêmios de cabelos brancos, o pessoal que nos anos 90 não perdia uma Segunda Sem Lei no Baixo Gávea. Era um bar de "tribos", como se dizia na época: a da música, a das artes plásticas, a do teatro, a do cinema, a da poesia --e a da azaração. "A Confeitaria Colombo da minha geração e uma versão analógica do Tinder", tuitou o fotógrafo e cronista Leo Aversa.
Na cidade em que nos últimos meses o comércio registrou o pior resultado da história, é virar uma esquina e dar com portas arriadas. A mais recente vítima foi a Casa Turuna, que havia 105 anos negociava fantasias e artigos de Carnaval. A impressão é que a cara do Rio está desaparecendo, sumindo, desfazendo-se em tempo real diante de atônitos cariocas.
Transformada em feudo bolsonarista, a prefeitura não está nem aí. Pelo contrário, colabora na destruição. Com o mandato no fim, Crivella quis empurrar a chamada Lei do Puxadinho, que alterava regras de uso e ocupação do solo. A Justiça suspendeu o mimo aos milicianos.
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