Bolsonaro força uso da cloroquina, e ministério desconhece falta de insumos vitais contra a Covid-19
O irresponsável passeio de moto de Bolsonaro — infectado pelo Sars-Cov-2 —, nos jardins do Alvorada, sem máscara, pôs em risco os garis também desprotegidos com quem ele conversou e produziu mais uma cena para ilustrar os desatinos que a postura anti-Ciência do presidente tem causado em um Ministério da Saúde omisso diante da pandemia que já matou mais de 85 mil brasileiros.
A omissão e o desconhecimento técnico levam a decisões erradas, tomadas por um ministro interino que se eterniza claramente para atender Bolsonaro. E se eterniza porque o presidente entendeu que, ao nomear um general da ativa especializado em logística, teria espaço livre para pôr em prática, entre outros devaneios, sua ideia obsessiva de forçar a adoção da cloroquina contra a Covid-19. Ainda bem que não conseguiu suspender o distanciamento social, outra fixação sua, impedido pelo Supremo em boa hora.
A rejeição inamovível de Bolsonaro ao conhecimento científico se torna mais inaceitável a cada estudo sério que é publicado no mundo desaconselhando o uso da cloroquina contra a Covid-19. O último desses trabalhos, de um grupo de especialistas brasileiros, saiu no “New England Journal of Medicine” nesta semana. Diante do acúmulo de evidências, as sociedades brasileiras de Infectologia e Pneumologia recomendaram de forma clara ao Ministério da Saúde que abandone a orientação para o uso do remédio no tratamento da doença.
Sob comando de Eduardo Pazuello, o Brasil começou a formar um estoque de 11,5 milhões de comprimidos da droga, 4,4 milhões dos quais já haviam sido distribuídos até o início do mês. Daria para abastecer o mercado brasileiro de cloroquina por 38 anos, considerando seu uso recomendado pela Medicina (no tratamento da malária e de doenças autoimunes).
O governo Bolsonaro transformou a cloroquina e outras drogas não comprovadas contra a Covid-19 em política oficial, ao estabelecer regras para sua prescrição, por meio de determinação da Anvisa publicada no Diário Oficial. Enquanto isso, o ministro interino desconhece alerta feito pelo Comitê de Operações de Emergência em Saúde Pública (COE), do próprio ministério, de que há risco de desabastecimento de 267 insumos usados no tratamento da Covid-19, entre eles remédios essenciais para permitir a intubação de pacientes e sua ventilação mecânica.
Mas, na gestão Bolsonaro, informações técnicas perdem a vez para rumores que circulam nas redes sociais, mesmo que o desconhecimento leve a mais mortes. O ministro Gilmar Mendes pode ter usado mal a palavra “genocídio” ao relacionar o fato de um general da ativa ser ministro da Saúde quando cresce sem parar o número de mortes. Queira-se ou não, a imagem do Exército sai arranhada. Há, além do mais, um contrassenso quando um oficial da Força se opõe à Ciência, já que o Exército, desde a época da proclamação da República, sofre influência do Positivismo, pensamento conhecido por prezar o saber científico
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