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Sente-se censurado e teme a reação dos seus devotos
Até quando o presidente Jair Bolsonaro suportará calado o que considera um ataque direto ao que já chamou mais de uma vez de “minha mídia”? Ou foi a “minha imprensa”? Os que têm acesso a ele sussurram que Bolsonaro está indignado com mais uma decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, que conduz ali o inquérito sobre as fake news.
Confinado no Palácio da Alvorada depois de testado três vezes positivo para o coronavírus, sem ter com o que se distrair a não ser correr atrás de emas com uma caixa de cloroquina na mão para ser fotografado, Bolsonaro reagiu como de costume com palavrões quando soube que contas de seus devotos no Twitter e no Facebook foram tiradas do ar por ordem do ministro.
Bons tempos aqueles em que se sentia à vontade para enfrentar de peito aberto o Congresso e o Judiciário – e quantas vezes não o fez provocando crises? Em 30 de abril último, por exemplo, baixou o cacete em Alexandre por ter impedido a posse como diretor-geral da Polícia Federal de um delegado que ele indicara. Bolsonaro chegou a ameaçar, furioso e desafiador:
– Tirar em uma canetada, desautorizar o presidente da República dizendo em impessoalidade… Ontem, quase tivemos uma crise institucional, quase, faltou pouco.
O crescente cerco judicial ao governo e o envolvimento dos seus três filhos Zero com fake news fizeram Bolsonaro moderar suas falas. Não se sabe até quando. Nem ele mesmo faz ideia do quanto ainda será capaz de engolir calado. Sente-se tolhido, vigiado, censurado, sem poder de fato dizer o que pensa sobre tanta coisa que vê e que o contraria. Cancelaram sua natureza rebelde.
Receia que, em breve, seus seguidores nas redes sociais e, principalmente, os titulares de contas, remuneradas ou não, que sempre o defenderam, acabem por se revoltar. Poderão se achar abandonados por ele, ou sacrificados no altar da Velha Política onde Bolsonaro tenta cada vez mais atrair parceiros com a oferta de cargos no governo, liberação de verbas e outras sinecuras.
Enquanto isso, Alexandre de Moraes não dá o mais pálido sinal de que possa reduzir o seu empenho de ir em frente na tarefa que lhe deu o ministro Dias Toffoli, presidente do Supremo. E conta com o apoio unânime ou quase unânime dos demais colegas. Um deles, Luís Roberto Barroso, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, bateu duro nos fabricantes e distribuidores de notícias falsas:
– São milícias, gangues que precisam ser neutralizadas, e estamos fazendo todo o possível para enfrentá-los dentro da lei.
Jogo jogado antes mesmo de começar
Inquérito contra Bolsonaro será arquivado
Só não se sabe ainda a data, mas dez entre dez cabeças coroadas da República dão como certa a decisão de Augusto Aras, Procurador-Geral da República, de arquivar o inquérito que apura se o presidente Jair Bolsonaro tentou ou não intervir na Polícia Federal, o que provocou a demissão de Sérgio Moro, ex-ministro da Justiça.
É jogo jogado. Ou melhor: é jogo jogado desde antes de ter começado de fato a ser jogado. Bolsonaro sempre soube disso sem que Aras precisasse lhe dizer com todas as letras. Moro também. E o ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal, que preside o inquérito. A decisão cabe unicamente a Aras. E ele já a tomou.
O vídeo da reunião ministerial de 22 de abril último mostra que Bolsonaro ameaçou demitir Moro se ele não substituísse o superintendente da Polícia Federal no Rio. E deixa claro por que Bolsonaro queria a substituição. Mas, e daí? Aras deve o cargo que ocupa a Bolsonaro. E somente a ele. E não será mal agradecido.
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