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Dinheiro do vírus para deputados amigos
Está marcado para logo mais o início da votação pela Câmara dos Deputados da prorrogação do Fundeb, o fundo que financia a educação básica no país. Ali, o assunto vem sendo discutido há pelo menos cinco anos e, finalmente, chegou-se a um acordo.
Mas apenas no último sábado, transcorrido um ano e quase 7 meses da tumultuada gestão de Jair Bolsonaro, e quatro ministros da Educação depois, foi o que o governo acordou e disse que amadureceu algumas ideias a respeito. Resultado?
Perdeu. Suas ideias, quase todas, foram rejeitadas pelos líderes dos partidos, e mais a relatora do projeto, e mais o presidente da Câmara. Para evitar, porém, que o governo arroste com uma derrota acachapante, pequenas concessões lhe serão feitas.
Educação nunca foi tema do agrado do presidente da República, basta ver os ministros escolhidos por ele para cuidar da área. O primeiro, o professor Ricardo Vélez, falava português com sotaque. O segundo, Abraham Weintraub, escrevia português errado.
O terceiro, Carlos Alberto Decotelli, que falava e escrevia português muito bem, não era pós-doutor, como apregoava em seu currículo, nem mesmo doutor. Sequer oficial da Marinha, como se dizia. O quarto, Milton Ribeiro, pastor, pegou o Covid-19.
Bolsonaro nada parece ter aprendido nos seus quase 30 anos na Câmara, nem esquecido tampouco. E agora que descobriu que sem o Congresso não governará, decidiu aplicar a única forma que conhece de atrair apoios: oferecer dinheiro em troca de votos.
No início deste mês, o Ministério da Saúde anunciou a liberação de 5,7 bilhões de reais em verbas de combate ao coronavírus para prefeituras indicadas por deputados aliados do governo, ou simpáticos a ele, ou suscetíveis de serem arrebanhados.
Como toda essa grana não chegou ainda ao seu destino e a confiança no governo é mínima, muitos deputados se sentiram enganados. Então, ontem, o general Luiz Eduardo Ramos, ministro da Secretaria de Governo, prometeu liberar mais 1 bilhão.
Os deputados querem ver antes de crer e de empenhar seus votos na defesa de projetos de interesse do governo. Tenebrosas transações como essas se davam antigamente às escondidas – e, se descobertas, se negava. No governo Bolsonaro está sendo às claras.
Deve ser prova de transparência ou do que ele chama de Nova Política. Usar dinheiro do combate ao vírus para contemplar prefeituras sob o controle de parlamentares é também uma maneira de tentar influenciar no resultado de eleições.
Sem partido, porque abandonou o que tinha e ainda não conseguiu montar outro, Bolsonaro diz que ficará de fora das eleições de novembro. Pura conversa fiada. Por debaixo do pano, age para beneficiar os que poderão vir a beneficiá-lo no futuro.
O general e seu inferno astral
Em disputa, a coordenação política do governo
O aniversário do general Luiz Eduardo Ramos, ministro da Secretaria do Governo, passou. Foi em 12 de junho último quando ele completou 64 anos. O que não passou foi seu inferno astral.
Depois de muito resistir, Ramos cedeu a pressões dos seus colegas de farda e pediu passagem para a reserva. Um general da ativa no governo daria impressão que os militares apoiam o governo.
E eles não apoiam, como estão roucos de dizer. Não é mesmo?
O problema de Ramos, agora, é outro, e novo não é. Por mais que o general adule e tente saciar seu apetite por cargos, dinheiro e demais sinecuras, o Centrão está insatisfeito com ele. Quer mais.
E como na política não existe espaço vago ou a vagar…
Quem se insinua para tomar do general a função de coordenador político do governo é o deputado Fábio Faria (PSD-RN), novo ministro das Comunicações e genro de Sílvio Santos, dono do SBT.
Militar não abandona outro em apuros. O ex-capitão Bolsonaro não abandonará o general. Os dois foram paraquedistas. Bolsonaro está cercado de generais paraquedistas.
Nem por isso, Ramos está a salvo de perder a coordenação política.
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