Assim, a
Humanidade se desenvolveu e chegou ao ano de 2020. Foi e vai sendo moldada
pelos valores culturais, econômicos, sociais hegemônicos, em tempos de guerras
e de paz. Lembrando, que só no século
XX, fomos capazes de fazer duas guerras mundiais: com bombas atômicas jogadas, em tempos
distintos, em Hiroshima e Nagazaki. Portanto, o nosso desafio principal
continua sendo a construção de uma cultura da Paz, a ser defendida e
conquistada, permanentemente.
Esta tem
sido a nossa caminhada como Humanidade. Vamos nos transformando e transformando
a natureza, da qual somos parte integrante.
A
pandemia em curso durante o ano de 2020, e a proximidade de 2021, é mais uma
oportunidade de nos admirarmos e nos questionarmos sobre o que estamos fazendo
com as nossas vidas, como nos relacionamos e, quais são os nossos valores e a
nossa práxis no caminho da construção de um novo humanismo, respeitando a
diversidade cultural, espiritual, étnica da Humanidade, colocando o imperativo
categórico de uma mudança urgente das nossas relações insustentáveis que
estabelecemos entre nós e com a própria natureza.
O que
podemos fazer?
O que
temos a dizer como Humanidade em relação às questões antes destacadas?
O que
estamos herdando de 2020, ano inicial da pandemia da covid-19?
O que queremos e podemos fazer neste ano de 2021 que se aproxima?
No ano
de 2020, a pandemia chegou e deu uma maior visibilidade à nossa tragédia
política, econômica e social. Acelerou algumas mudanças, desnudou e modificou
comportamentos, impactou o nosso cotidiano, a nossa maneira de viver em
sociedade.
Os
resultados recentes da pesquisa da OCDE em relação à economia mundial,
particularmente a situação do G 20 -
grupo de 19 países mais a União Europeia, apontam para o crescimento de
8,1 % da economia brasileira no terceiro trimestre deste ano, após queda sem
precedentes do PIB brasileiro na primeira metade de 2020, quando as economias
brasileira e mundial foram impactadas pela pandemia.
O Brasil
ficou e continua abaixo da média de recuperação da economia dos países da OCDE,
crescendo apenas 7,7%. O PIB da Índia
foi o que mais se recuperou no período, com 21,9%, após uma queda de 25,2% no
trimestre anterior, a maior retração já alcançada entre as economias do G20.
Os dados
divulgados pela OCDE evidenciam que as nossas relações políticas, econômicas e
sociais estabelecidas e reafirmadas durante a pandemia continuam insustentáveis
e não atendem às expectativas da maioria da Sociedade.
Portanto,
frente a essa realidade, continuamos a ser desafiados, em 2021, a construir e
defender valores que nos coloquem no caminho da sustentabilidade política,
econômica, social e ambiental. Devemos
persistir e continuar a trabalhar para superar a triste e desoladora realidade
social de uma parcela majoritária da população mundial, desrespeitada nos seus
direitos básicos, consolidados na Declaração Universal dos Direitos Humanos, a
saber: de ir e vir, moradia, educação, saúde, trabalho e renda, além de uma
agenda primordial, a ser conquistada.
Nós, como humanidade, devemos continuar
comprometidos com o enfrentamento sistemático dos graves problemas sociais,
econômicos e ambientais vividos no cotidiano das nossas vidas, agravados com a
pandemia neste ano de 2020.
Ainda,
as relações internacionais continuam desafiadas, como nunca, ao exercício do multilateralismo
e ao fortalecimento da Cultura da Paz. O conteúdo das mudanças em curso e das
que devem ser realizadas, durante a pandemia e o futuro imediato, deve ser
pauta permanente da ONU, FMI, OIT, OMS, União Europeia, MERCOSUL, entre outras
Organizações Internacionais, nesse processo de tomada de consciência para as
mudanças urgentes a serem realizadas nos planos internacional e nacional,
voltadas para uma maior inclusão social, construção de uma nova economia de
baixo carbono, atenção às mudanças climáticas e à preservação dos ecossistemas
do Planeta.
Assim, a
Sociedade no ano de 2021, que se aproxima, estaria sendo contemporânea dos
desafios atuais e do futuro, na busca da superação dos conflitos e contradições
estabelecidos e construídos historicamente e, atualmente, pela Humanidade.
Algumas
dessas transformações já estão acontecendo. São processos em curso. Novas
relações estão sendo construídas, a partir das mudanças técnicas em andamento e
de novas relações políticas e sociais em construção nas redes, nas ruas, no
mundo do trabalho e da cultura, impactados pela pandemia.
As
Organizações Governamentais, Não Governamentais e a Cidadania devem persistir e
trazer para suas pautas as distintas realidades políticas, econômicas e
sociais, identificando as contradições e os conflitos da sociedade, de maneira
geral, com especificidades e particularidades, em função da realidade política,
econômica e social.
Quais as
questões estruturantes a serem consideradas neste contexto frente à realidade internacional
e brasileira?
No
Brasil, a qualidade das políticas públicas atuais e as que devem ser construídas
levariam às mudanças políticas, econômicas e sociais, na medida em que sejam
construídos novos conteúdos e pactos entre os diversos atores políticos, econômicos
e sociais.
A
ampliação da Democracia e a consequente participação da Cidadania são
instrumentos fundamentais no caminho desta sustentabilidade econômica, social e
ambiental desejadas.
Enfim, a
Sociedade em geral está convocada a ter uma efetiva participação na construção
e na implementação dessas políticas públicas no caminho da sustentabilidade
econômica, social e ambiental, respeitando as especificidades nacionais.
A
insustentabilidade política, econômica e social, em que vivemos, reflete as disfuncionalidades
e limites das atuais estruturas políticas, econômicas e sociais responsáveis
pela formulação e implementação dessas políticas nacionais e
internacionais.
A
autonomia da Sociedade, em relação ao corporativismo do Estado e do Mercado, é
um dos principais desafios da Governança Democrática Nacional e Internacional.
Portanto,
a eficiência de uma Governança Democrática está relacionada com os meios, os
modos de construção, de implementação das políticas nacionais e regionais, em
cooperação com as Organizações Multilaterais Internacionais e Nacionais.
Os
avanços da Democracia, com conquistas efetivas de toda a Sociedade, aconteceram
naqueles países em que foi possível a construção de pactos políticos,
econômicos e sociais que garantiram e continuam garantindo políticas públicas
democráticas, inclusivas, para a maioria da Sociedade.
É
importante ainda destacar, nesse contexto, os limites do próprio Estado Nacional,
em uma Sociedade cada vez mais mundial, ampliados com as crises política,
econômica, social e de valores que estamos enfrentando nesses tempos de
pandemia, evidenciando de maneira evidente a interdependência e a
complementariedade entre o nacional e o internacional.
Em
relação ao Brasil, no ano que se avizinha, o campo democrático continua sendo
desafiado a entender a gravidade e a complexidade do momento político em que
vivemos. Há que haver uma maior
articulação entre os discursos e as ações dessas forças democráticas no
Congresso Nacional e na Sociedade em geral, no caminho de uma alternativa
democrática para a superação da crise política, econômica, social e de valores
que estamos vivendo.
Finalmente,
continuamos desafiados(as), em 2021, a um maior protagonismo da Sociedade
brasileira e mundial, buscando o fortalecimento da Sociedade Civil, com o
exercício pleno da Cidadania.
Estes
são alguns dilemas de uma Governança Democrática Mundial e Nacional, durante o
ano de 2021: a necessidade de ampliação e fortalecimento da Democracia, através
da construção de pactos entre os diversos atores políticos, econômicos e
sociais nacionais e internacionais, no caminho de uma Governança Democrática
Mundial, considerando as especificidades nacionais.
Que seja
bem vindo, ano de 2021!
*George Gurgel, Universidade Federal da Bahia, da Oficina da Cátedra da UNESCO-Sustentabilidade
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