Dois
anos depois da eleição de Wilson Witzel para o governo do Estado do Rio e
passados quatro da vitória de Marcelo Crivella para a prefeitura da cidade, a
“nova política” mostrou seu verdadeiro rosto
Dois
anos depois da eleição de Wilson Witzel para o governo do Estado do Rio e
passados quatro da vitória de Marcelo Crivella para a prefeitura da cidade, a
“nova política” mostrou seu verdadeiro rosto. Como dizia o poeta Cacaso
(1944-1987):
Ficou
moderno o Brasil,
Ficou
moderno o milagre
A
água já não vira vinho,
Vira
direto vinagre.
Witzel
e Crivella teriam sido algo novo. Um perdeu o mandato e batalha pela liberdade.
O outro está preso em casa. A água que viraria vinho nem vinagre virou, tornou-se
apenas uma lama velha.
Witzel
prometia tiros nas “cabecinhas”e Crivella oferecia lances místicos enquanto
aninhava milicianos na prefeitura. Foram novos na empulhação. Ocupando os
cargos, nem na roubalheira inovaram. Basta ver a onipresença do “Rei Arthur”,
nas maracutaias da “nova política”. Ele era o donatário das comissões para
fornecedores durante o mandarinato do “gestor” Sérgio Cabral.
Como
disse o grande Príncipe de Salinas no romance “O Leopardo”, tudo isso não
deveria poder durar, mas vai durar.
Cabral
roubava criando ilusões modernistas, como o teleférico do Morro do Alemão, que
continua parado. Witzel, que fez campanha na Baixada Fluminense amparado na
lógica política dos bicheiros, atolou-se com velhas quadrilhas. Um era o falso
moderno, o outro, o verdeiro atraso. Crivella recorreu a milicianos, coisa que
Cabral nunca fez ostensivamente.
O
único ingrediente de originalidade municipal, estadual e federal da “nova política”
é a demofobia explícita. Ela demoniza a pobreza, nega a pandemia e vive em
contubérnio com as milícias. O resultado disso está na sala dos brasileiros:
vacinas contra a Covid, só no noticiário internacional.
Água
vira vinagre quando se sabe que há mais de cem anos D. Pedro II fez questão de
cumprir o isolamento social durante uma passagem por Portugal, e hoje o
general-ministro da Saúde diz a parlamentares que não devem falar nisso.
Na
madrugada de 17 de novembro de 1889, quando o imperador foi posto em um navio e
desterrado para a Europa, ele disse: “Os senhores são uns doidos”.
Parecia
que o doido era ele.
Ibaneis
com Picciani
Ibaneis
Rocha, governador de Brasília e empresário bem-sucedido, com um patrimônio
declarado de R$ 94 milhões é também um destemido.
Em
agosto ele arrendou a fazenda Monteverde, em Uberaba (MG), de propriedade do
notável Jorge Picciani. O simples fato de fazer negócio com o ex-presidente da
Assembleia do Rio indicaria um empresário audacioso. Como Picciani foi
condenado a 21 anos de prisão e rala sua pena em prisão domiciliar, fazer
negócio nesse mundo é coisa de gente muito corajosa. Ibaneis e Picciani
pertencem ao mesmo partido, o MDB.
Os
bens do poderoso Picciani estão bloqueados pela Justiça que lhe cobra R$ 91
milhões.
Onze em cada dez empresários correriam de um negócio desse tipo como o Tinhoso corre da cruz.
A Carta
de Capistrano
A
Fiocruz deu uma lição de Justiça aos ministros do Supremo Tribunal Federal e ao
Superior Tribunal de Justiça (o da Cidadania). Ambos pediram reservas de
vacinas para seus doutores, funcionários e colaboradores. O STF queria sete mil
doses só para ele e para a turma do Conselho Nacional de Justiça.
O
pedido foi feito sem que os ministros dos dois tribunais fossem consultados.
Promotores do Ministério Público de São Paulo haviam tentado o mesmo golpe há
algumas semanas.
A
centenária instituição de defesa da saúde pública nacional respondeu aos
doutores informando que não lhe cabe “atender a qualquer demanda específica por
vacinas”.
Foram
educados. O historiador Capistrano de Abreu, num lance indelicado e agressivo,
defendeu uma revisão constitucional, pela qual a Carta teria apenas dois
artigos:
Artigo
1º - Todo brasileiro deve ter vergonha na cara.
Artigo
2º - Revogam-se as disposições em contrário.
Precisa-se
de padrinho
Quatro
instituições de medicina privada, entre as quais duas guildas e duas
operadoras, estão pedindo ao governador de São Paulo, João Doria, que lhes dê
um mimo tributário, restabelecendo a isenção de ICMS que as beneficiava.
Durante
a pandemia, São Paulo perdeu cerca de 10% da arrecadação desse imposto, noves
fora 45 mil mortos. Já as operadoras de planos de saúde tentaram enfiar um
aumento selvagem na clientela e recusaram-se a pagar pelos testes do coronavírus.
Entre
janeiro e setembro deste ano uma só operadora lucrou US$ 13,2 bilhões, 30%
acima do que conseguiu no mesmo período do ano anterior.
Os
doutores fazem um apelo a Doria em nome da “vida”. A vida deles, em busca de um
padrinho.
Casa de
doidos
Para
quem acha que o Palácio do Planalto é uma usina de crises, os aloprados que
assessoram o presidente Donald Trump mostraram que sua Casa Branca tornou-se
uma insuperável casa de doidos. Por quase uma semana circulou por lá a ideia de
usar a pandemia para colocar os Estados Unidos sob lei marcial. Seriam
suspensas garantias individuais e a posse do presidente eleito Joe Biden.
Aloprados
de palácio são assim mesmo. Propõem maluquices, sabendo que quem corre o risco
de sair do prédio numa camisa de força é o titular. Eles se garantem com
palestras ou consultorias.
Alcolumbre
tonto
O
senador Davi Alcolumbre convenceu-se de que seu inferno astral foi produzido
pelos acertos que supunha ter feito no Supremo Tribunal Federal. É exagero.
Se
Macapá ficou sem energia e seu irmão perdeu a prefeitura, o Supremo nada teve a
ver com isso.
No
fundo, ele esperava que o Tribunal declarasse inconstitucional um dispositivo
da Constituição. Na forma, Alcolumbre e seus aliados tinham feito as contas. No
conteúdo, a dose era cavalar e a receita desandou.
Na mosca
Não
importa o motivo que levou os ministros Marco Aurélio, Gilmar Mendes, Ricardo
Lewandowski e Alexandre de Moraes a anunciar que continuarão trabalhando
durante o recesso que vai até 6 de janeiro. Eles miraram no que viam e
acertaram o que não viram.
Com
as sessões virtuais, esse recesso é um mimo anacrônico.
A
crônica dos litígios que aguardavam o recesso para cair no colo generoso do
presidente-plantonista registra incríveis acrobacias às quais os quatro
mosqueteiros podem ter dado um fim.
Salto
alto
As
administrações do governador João Doria e do prefeito de São Paulo, Bruno
Covas, subiram em saltos altos.
Há
algumas semanas um dos hierarcas de Doria disse numa entrevista que se a
CoronaVac tivesse 50% de eficácia, estaria tudo bem. Quem entende do assunto
sentiu cheiro de queimado. Passaram-se os dias e o grau de eficácia dessa
vacina está no tabuleiro. Jogo jogado, pois tudo poderia estar sendo feito com
a melhor das intenções.
Eis
que nisso o governador quis tirar férias em Miami. Já o prefeito Bruno Covas,
aumentou seu próprio salário e tungou a gratuidade no transporte público para
idosos (nesse lance, em parceria com Doria).
Tucano quando sobe em salto alto é incapaz de descer dele até na hora do banho.
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