Mudou
o Natal ou mudamos?
O
presidente Jair Bolsonaro e os brasileiros se merecem. Antes que o dito possa
soar como um insulto (no caso a uma parte dos brasileiros), avanço na
justificação.
Pouco
importa que ele seja um presidente acidental, em grande débito com a facada que
levou em Juiz de Fora quase às vésperas da eleição e com o antipetismo de raiz.
Colheu
mais de 56% dos votos no segundo turno da eleição. Sua vitória não foi
contestada por ninguém, a não ser por ele mesmo que viu fraude no primeiro para
impedi-lo de se eleger logo.
Depois
de dois anos de (des)governo, continua sendo bem avaliado. Em todas as
pesquisas de intenção de voto feitas até aqui, derrota com conforto seus
eventuais adversários em 2022.
Assim, sente-se liberado para dizer o que pensa, e o faz sem temer revezes. E sem que isso cause severos danos à sua imagem. Afinal, o que diz é o que está na cabeça da maioria dos que o apoiam.
Desfila sem máscara por aí quando a pandemia se aproxima do número oficial de 220 mil mortos e de quase 8 milhões de infectados. E daí? Não é o que vemos por toda parte?
O
governo de São Paulo adotou medidas de isolamento para barrar o avanço do vírus
no período de festas do fim de ano. Dezenas de cidades praianas do interior do
Estado não ligaram para isso.
Em
Manaus, ontem, centenas de pessoas ocuparam as ruas do centro para protestar
contra iguais medidas, e depois tentaram depredar a casa do governador.
Foram
aclamadas nas redes sociais pelo deputado Eduardo Bolsonaro, o Zero Três, que,
como o pai, quer mais é ver o povo nas ruas e, de preferência, armado.
Neymar
convidou 500 amigos para cinco dias seguidos de festa na sua mansão em
Mangaratiba, no litoral do Rio. Ora, o dinheiro é dele, irá quem quiser e
celebridade pode tudo.
Cresce
o número de países na América Latina que começaram a vacinar seus habitantes. É
o caso, por exemplo, do México, Costa Rica, Colômbia, Chile e, agora,
Argentina.
Se
tudo correr bem, e não tem corrido desde o início da pandemia, só começaremos a
ser vacinados no fim de fevereiro. São Paulo que começar antes, mas poderá ser
impedido.
Bolsonaro
não se sente pressionado pelo fato de outros países já terem começado a
vacinação em massa. “Não dou bola pra isso”, comentou com a maior desfaçatez.
E
desqualificou as vacinas: “Tudo que eu vi até agora em vacina que poderão estar
disponíveis tem uma cláusula que diz que eles não se responsabilizam por
qualquer efeito colateral”.
Sua
parceria com o vírus foi bem-sucedida até aqui, a levar-se em conta a
indiferença dos brasileiros que não o culpam pelas mortes. Por que deixaria de
ser daqui em diante?
É
fato que era de 19% o índice dos que em junho deste ano apontavam a Saúde como
o principal problema do país e, agora, é de 27%, segundo pesquisa recente do
Datafolha. Mas, e daí?
Em
março de 2011, o índice era de 31%, chegou a 48% em junho de 2013 e, em dezembro
de 2014, foi a 43%. E não houve pandemia em nenhum desses anos.
Mudou o Natal ou mudamos para pior?
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