Base
social do presidente mudou, mas é incerto que crise de 21 abale avaliação
Pelo
menos desde o início da epidemia, a oposição a Jair
Bolsonaro espera que a popularidade
do capitão da extrema direita descambe para um nível crítico. Não
aconteceu até agora.
O
motivo da resistência bolsonariana seria o auxílio
emergencial, argumenta-se com obviedade. Uma vez findo o benefício,
a pobreza renovada e ampliada deve se voltar contra Bolsonaro, ainda mais
porque sua base mudou desde o início do ano, sendo agora majoritariamente
composta de pessoas de renda menor.
Pode até ser. Mas o argumento supõe que o auxílio emergencial faz com que muito brasileiro seja indiferente à selvageria, à negligência e à incompetência de Bolsonaro ou as tolere (aqueles 30% que o avaliam como “regular”). Se é verdade, temos problema mais profundo. Além do mais, o prestígio resistente mesmo depois de tanta atrocidade faz lembrar de Donald Trump e de sua votação imensa na eleição deste ano, fenômeno que escapa a explicações econômicas, sociais ou regionais rudimentares.
Além
de aprovação, há identificação com o jeito e as causas de Bolsonaro, mostram
sociólogas e antropólogas, coisa difícil de medir, no entanto; seu governo tem
bem mais aprovação de homens do que de mulheres.
Popularidade,
de resto, depende de haver alternativas, reais ou imaginárias. O prestígio
de Dilma
Rousseff, que andava pela casa de 60% em junho de 2013, caiu pela metade
em duas semanas, quando os brasileiros descobriram que eram infelizes e não
sabiam, na frase do cientista político André Singer. Mas não há liderança
política alternativa, oposição ou um convite a imaginar vida diferente desta
sob Bolsonaro e seu governo militar.
O prestígio de Bolsonaro jamais foi tão alto, segundo o Datafolha, 37% de “ótimo/bom”. Mas está mais ou menos onde sempre esteve. A média desde o início do mandato é de 33%. Bolsonaro teve 36% dos votos no primeiro turno de 2018.
Não
se trata, porém, das mesmas classes de brasileiros. Da eleição até o fim de
2019, em torno de 30% daqueles que apoiavam Bolsonaro eram os mais pobres, que
ganham até 2 salários mínimos. Passaram a 50% desde meados do ano. De modo
menos marcado, a base bolsonariana passou a ter mais pessoas com ensino
fundamental ou menos.
Foram
abalados pela economia? A inflação da
comida chegou agora aos 21% ao ano, inédito
desde 2003. Aumentou o desemprego, um dado muito distorcido pelo
ambiente de epidemia, porém. O auxílio emergencial caiu pela metade.
Por
outro lado, a população com algum trabalho começou a aumentar desde agosto ou
setembro, quando também houve alguma reabertura econômica; o comércio recuperou
as perdas da epidemia.
Virado
o ano, o auxílio será zerado, não haverá emprego para a dezena de milhões de
desocupados deste 2020 e a comida cara pesará ainda mais. Mas, se Bolsonaro
perder todos os pobres que agregou à sua base neste ano, sua popularidade ainda
estará perto de 30%, tudo mais constante.
Os
180 mil mortos da epidemia não abalaram de modo decisivo a popularidade do
capitão. A negligência com as vacinas pode ser fatal? E se Bolsonaro conseguir
fazer um show mínimo de vacinação, o povo miúdo entenderá o problema? O povo
soube que o auxílio emergencial foi obra do Congresso, não de Bolsonaro? O 30%
de bolsonarismo raiz se importa com o estelionato eleitoral de o governo se
entregar ao centrão, achincalhado em 2018? De Sergio Moro ter sido escorraçado
(afora o lacerdismo de classe média alta e ricos minoritários)? De não haver
governo além daquele tocado pela burocracia?
Hum.
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