Por
Carolina Freitas — Valor Econômico
SÃO PAULO - Morreu na madrugada de ontem em Brasília o advogado e ex-deputado federal José Alencar Furtado, aos 95 anos. Alencar Furtado teve o mandato parlamentar cassado pelo governo militar, em 1977, com base no Ato Institucional nº 5 (AI-5). A justificativa da ditadura para cassar o então líder do MDB na Câmara foi um pronunciamento de Furtado em programa de rádio e TV do partido, em que o político homenageou parlamentares cassados, presos e exilados pelo regime.
“O
programa do MDB defende a inviolabilidade dos direitos da pessoa humana para
que não haja lares em prantos. Filhos órfãos de pais vivos - quem sabe -
mortos, talvez. Órfãos do talvez ou do quem sabe. Para que não haja esposas que
enviúvem com maridos vivos, talvez, ou mortos, quem sabe? Viúvas do quem sabe e
do talvez”, disse, na ocasião, Furtado. A expressão “viúvas do quem sabe e do
talvez” seria depois usada na luta pela anistia. “Órfãos do Talvez” é título de
um livro publicado por Furtado, em 1979.
De
acordo com a família, o político morreu em casa, em decorrência de
insuficiência renal. Ele foi velado e sepultado ontem no Cemitério Campo da
Esperança, na Asa Sul, na capital federal. Deixa a mulher, Míriam Cavalcanti
Alencar, que conheceu nos anos 1950 na Faculdade de Direito do Ceará, em
Fortaleza. Furtado nasceu em Araripe (CE). Após o casamento, o casal mudou-se
para Paranavaí (PR). Ele foi militante da Esquerda Democrática, dissidência da
UDN, e um dos fundadores do Partido Socialista Brasileiro (PSB) no Ceará.
Na
época da cassação de Alencar Furtado, o presidente era o general Ernesto
Geisel, e o governo dizia estar em um momento de “distensão lenta, gradual e
segura”. O discurso do líder do MDB, no entanto, não foi tolerado. Participaram
do programa de rádio e TV o presidente do partido, Ulysses Guimarães, o líder
no Senado, Franco Montoro (SP), e o presidente do Instituto Pedroso Horta,
deputado Alceu Colares (RS). Os quatro criticaram o AI-5, o alto custo de vida
e o arrocho salarial. Eles formavam um grupo que se denominava o MDB
“autêntico”.
Ao
longo de seu mandato de deputado, Alencar Furtado fez 40 discursos com
denúncias de torturas e críticas à condução da economia pelo governo federal.
Após a anistia, Furtado se elegeu deputado federal em 1982. Ele ocuparia o
mandato até o fim, em 1987. Há 25 anos, deixou a política e passou a se dedicar
à literatura.
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