O
processo não avançaria, mas temos obrigação moral de tentar
Na
atual conjuntura política, um processo de impeachment
de Jair Bolsonaro seria derrotado, mas daí não decorre que não
tenhamos a obrigação moral de tentar.
Dilma
Rousseff buliu com as contas públicas e foi corretamente afastada pelo
Congresso. Bolsonaro cometeu crimes de responsabilidade muito mais graves, mas
nada acontece com ele. Por quê?
Isso se deve à natureza meio capciosa do instituto do impeachment e, principalmente, à complacência da sociedade. Processos de afastamento de presidentes exigem uma base jurídica, que não é difícil de conseguir —"proceder de modo incompatível com a dignidade, a honra e o decoro do cargo" vale para qualquer coisa—, e a quase inviabilidade política, já que o titular só é de fato destituído se mobilizar contra si 2/3 dos parlamentares.
Como
o segundo elemento é muito difícil de obter, fechamos os olhos para violações
constitucionais com uma frequência muito maior do que a recomendável.
Se
a situação socioeconômica não se deteriorar muito nos próximos meses, o que não
desejo, Bolsonaro não tem com o que se preocupar. O centrão deverá segurá-lo no
cargo. Mas, sob pena de potencializar ainda mais os já escandalosos níveis de
complacência nacional, a parcela dos brasileiros que rejeitam as atitudes e as
políticas de Bolsonaro tem o dever de marcar posição, pressionando para que a
Câmara ao menos dê início a um processo de destituição.
Ainda
que a derrota seja quase certa, é uma satisfação que devemos aos pósteros. O
Partido Democrata dos EUA passou por idêntica situação em 2020 e optou por dar
seguimento ao primeiro
impeachment de Donald Trump, mesmo sabendo que o processo
morreria no Senado. Os democratas e os americanos que os apoiavam fizeram
questão de mostrar que não haviam ficado cegos nem abandonado as noções básicas
de retidão e decência.
A patacoada golpista de Trump na semana passada prova que tinham razão.
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