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O Globo
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onde quer que se pegue, o Brasil está literalmente descendo a ladeira, caindo
pelas tabelas das principais estatísticas internacionais. A começar pelo
combate à pandemia da Covid-19, passando por questões internas que nos afastam
assustadoramente do mundo ocidental civilizado. Em números absolutos, temos o
desonroso segundo lugar no mundo, com mais de 255 mil mortes por Covid-19.
Mesmo quando colocado em termos proporcionais, o número no Brasil fica entre os
30 países mais atingidos dos 178 com mais mortes por Covid-19 para cada 100 mil
habitantes. Também na comparação proporcional, houve mais mortos no Brasil do
que na Argentina, Alemanha e Rússia. Com relação à vacinação em massa, a
estimativa é de que só será alcançada em meados de 2022, segundo a Economist
Intelligence Unit.
A plataforma Our World in Data, da Universidade de Oxford, indica que o Brasil
aplicou, até o momento, 3,97 doses para cada 100 habitantes. O país com a maior
taxa de vacinação no mundo é Israel, com 93,5 vacinados para cada 100
habitantes. Não por acaso, o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu,
faz propaganda na televisão para estimular a vacinação, e o presidente
brasileiro usa suas lives na internet para propagar o negacionismo, falar
contra o uso de máscaras e sobre os pretensos perigos da vacinação.
Essa calamidade do combate à pandemia no Brasil se refletirá certamente na
medição do Índice de Desenvolvimento Humano feito pelo Programa das Nações
Unidas para Desenvolvimento (Pnud), que avalia a saúde, a educação e o padrão
de vida dos países. O Brasil perdeu cinco posições no ranking mundial na última
medição, passou do 79º para o 84º lugar entre 189 países. Perdemos também duas
posições na América Latina, ficando atrás de Chile, Argentina, Uruguai, Peru e
Colômbia.
Com relação à educação, o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes
(Pisa, em inglês) registrou em 2019 ligeiro avanço dos estudantes brasileiros,
que seguem, no entanto, entre os 20 piores colocados entre as 80 nações
avaliadas em Ciências, Matemática e Leitura. Com todos esses resultados, ainda
acrescentamos à nossa desdita um Congresso que propõe acabar com a verba
obrigatória no Orçamento para Educação e Saúde, e um governo que, ao mesmo
tempo que tenta ser admitido na Organização para Cooperação e Desenvolvimento
Econômico (OCDE), desdenha medidas de boa governança exigidas de seus membros,
como valorização da democracia e dos direitos humanos, até regras de proteção
ao meio ambiente e no combate à corrupção.
Na questão ambiental, retrocedemos 20 anos em dois no governo Bolsonaro. O
Brasil, que já sediou congressos fundamentais e teve protagonismo internacional
na discussão da proteção ambiental, hoje tornou-se um pária. A batalha contra a
corrupção vai sendo gradualmente perdida por decisões jurídicas e
parlamentares. Já não há pudor em debater mudanças em temas como nepotismo,
improbidade administrativa ou impunidade parlamentar. Ou em defender alterações
na Lei de Ficha Limpa.
O presidente da Câmara, Arthur Lira, anuncia agora uma reforma política
“profunda”, que pretende amenizar a legislação de cláusulas de barreira para
atuação plena no Congresso dos partidos, acabar com a proibição de coligações
nas eleições proporcionais e certamente amenizar as barreiras a candidatos
condenados, como estava na versão original da PEC da Impunidade.
Os partidos que não conseguirem atingir as metas em 2022 para a eleição da
Câmara perderão pela primeira vez o direito de ter financiamento público, tempo
no rádio e televisão de propaganda eleitoral e até mesmo estrutura de gabinete
e presença em comissões e na Mesa da Câmara.
Essa é uma tentativa de repetir uma experiência já vivida. As cláusulas de
barreira foram aprovadas em 1995, para vigorar dez anos depois. Teoricamente,
os partidos teriam tempo suficiente para se organizar. Em 2006, esses mesmos
partidos entraram no Supremo Tribunal Federal contra as novas regras, e os
ministros acataram os apelos em nome de “defender as minorias”. Chegamos aonde
chegamos.
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