Pano
de fundo do Brasil para a Cúpula do Clima
Na véspera da abertura da Cúpula do Clima que reunirá 40 chefes de Estado, nem por encomenda fatos recentes poderiam se combinar melhor para reforçar aos olhos do mundo sua má impressão a cerca do governo Bolsonaro e a questão ambiental.
O
pior índice de desmatamento da Amazônia nos últimos 10 anos foi alcançado em
março último. Derrubou-se 810 quilômetros quadrados de floresta, área maior do
que a da cidade de Goiânia, segundo o Instituto do Homem e Meio Ambiente da
Amazônia
A
devastação triplicou em comparação com março de 2020. Cresceu 59% entre agosto
de 2020 e março de 2021 em relação ao período de agosto de 2019 a março do ano
passado. Apenas isso. 2020 foi também o ano em que queimou parte do Pantanal.
Em carta divulgada ontem, 400 servidores do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) anunciaram a suspensão de suas atividades de fiscalização graças a uma decisão do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.
Boneco
de ventríloquo de Bolsonaro, o que Salles aprontou dessa vez? Mudou o rito para
a aplicação de multas ambientais. Segundo os servidores, a nova regra fixada
por Salles no início do mês “inviabiliza” as ações de combate ao desmatamento
na Amazônia.
“Registramos
que, no momento, os meios necessários para o estrito cumprimento do nosso
trabalho não estão disponíveis e que todo o processo de fiscalização e apuração
de infrações ambientais encontra-se comprometido”, diz um trecho da carta.
Na
semana passada, Salles foi alvo de uma notícia-crime da Polícia Federal do
Amazonas e passou a ser investigado no Supremo Tribunal Federal (STF) por
supostamente atrapalhar uma investigação sobre a maior apreensão de madeireiras
ilegais.
Mais
alguma coisa? Sim. Nas últimas 24 horas, Salles ridicularizou no Instagram
indígenas que utilizam telefones celulares. Divulgou três fotos deles
carregando celulares. A primeira imagem tem como texto: “Recebemos a visita da
tribo do iPhone”.
Poderia
haver no caso do Brasil pano de fundo mais adequado para a reunião de cúpula
sobre o meio ambiente convocada pelo presidente Joe Biden? A sorte de Bolsonaro
é que a reunião será virtual. A ele caberá ler um texto redigido por
assessores.
Os
demais governos sabem que falta vontade política a Bolsonaro para combater a
degradação do meio ambiente. Se não faltasse haveria estratégia e meios
poderosos para isso. Assim como falta vontade política para enfrentar a
pandemia da Covid.
É
o que explica, por exemplo, Bolsonaro jamais ter defendido medidas de
isolamento social, e sabotado as que existem por conta de governadores e
prefeitos, e a compra de vacinas. Sobra-lhe vontade política para blindar os
filhos de denúncias de corrupção.
Como
acreditar que ele cumprirá os acordos que venham a ser firmados durante a
reunião de cúpula? Ele teria de fazer tudo ao contrário do que fez até aqui. É
como imaginar que Bolsonaro, um dia, deixará de elogiar a ditadura de 64 e a
tortura.
Esqueçam!
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