Decisão
do Supremo tornou possível o revival, a mesma urna de dois anos atrás
O
risco do futuro é repetir o passado indesejado. Ou, diante da urna eletrônica
de 2022, os eleitores viverem a mesma perplexidade que experimentaram em 2018.
Naquele tempo, todos contavam com o benefício de desconhecer os limites da
ignorância de Jair Bolsonaro.
No ano que vem já não haverá o álibi. A pandemia expôs a realidade e revelou o
presidente por inteiro. Seu retrato, ainda sem número, tem lugar reservado.
A
decisão do Supremo Tribunal
Federal de devolver a Lula condições
eleitorais, seja por sentimento de culpa dos magistrados ou por Justiça, foi
decisiva. Tornou possível o revival, a mesma urna de dois anos atrás, sina de
que só o êxito da CPI da pandemia nos livrará.
O lado da esquerda também não mudou. Seus dois principais candidatos, Ciro Gomes e Lula, reaparecem agora tal como no passado. O ex-presidente repete até seus fatais encontros marcados com o MDB. Já o cearense de Pindamonhangaba se reapresentou surpreendendo: promoveu um rompimento precoce com Lula e o PT em geral. Tudo igual. Talvez com o agravo de atribuir a Lula um dos traços mais condenáveis e marcantes em Bolsonaro: o ódio a tudo e a todos.
Também
os candidatos, ditos de centro, comparecerão em grande número. Talvez vingue
uma ou outra surpresa. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, do DEM de Minas
Gerais, está sendo considerado nas novas hipóteses. É possível, ele tem pressa.
Mas sua sorte depende do sucesso da CPI da pandemia. Houve ainda uma fumaça de
esperança com o aceno do presidente do PSDB, Bruno Araújo, de pré-lançamento do
senador Tasso Jereissati,
o que revigoraria o partido que perde terreno a cada eleição.
Do
seu polo, o candidato à reeleição, Jair Bolsonaro, apresenta-se com mais
densidade que em 2018. Mas não deixa de ser um clone de si mesmo. Nestes dois
anos e quatro meses, não melhorou a biografia, e não projeta expectativas. Seus
defeitos se realçaram mais que as possíveis qualidades. Entre os traços
descobertos entre uma eleição e outra, um determina os últimos movimentos de
poder do presidente: a falsidade. Bolsonaro tem sido mestre em ludibriar,
adversários e aliados.
Em
três circunstâncias recentes o presidente ficou exposto na mágica da enganação.
Continua determinado a promover o presidente do BC a ministro da
Economia. Roberto Campos Neto, porém, impõe uma
condição, só aceitará substituir o amigo Paulo Guedes se o próprio
conduzir abertamente o processo. Assim a equação não se desenvolve.
Outro
quadro de contradição são os choques públicos de opinião entre o presidente e o
seu quarto ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. Tudo não passa de um
acerto pragmático. Ao convidar Queiroga, ouviu dele que, como médico, não
poderia renegar o uso de máscara e o isolamento social, nem mesmo recomendar a
cloroquina. Bolsonaro, já cansado do mesmo problema, nem piscou: “Você fala o
que quiser e eu faço o que quiser”.
Também
o Senado comemorou cedo demais a demissão do chanceler Ernesto Araújo, o terceiro fato
recente da falsidade presidencial. Araújo saiu do cargo, mas permanece ativo,
representante de Olavo de Carvalho no governo, agora atuando informalmente ao
lado de quem deveria ter sido demitido antes dele, o assessor do
presidente, Filipe Martins. Aquele tal personagem
do gesto racista exibido em rede nacional durante uma sessão do Senado.
Segue
o presidente, assim, com seu discurso padrão, do qual se pode destacar, com o
recrudescimento da crise sanitária, uma triste impressão. Bolsonaro parece
estar apostando que as mortes serão esquecidas até lá. Por isso prefere insistir
nos problemas de sobrevivência, amplificados pela economia fechada. A fome,
pelo que transparece de suas convicções, terá melhor efeito eleitoral.
A não ser que a CPI da pandemia consiga restabelecer a verdadeira identidade do presidente Jair Bolsonaro.
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