Cartas
não definirão a política externa dos EUA com o Brasil; mas terão influência
quando as negociações bilaterais começarem
Nos
últimos dois anos, a ausência de uma política
externa atuante que acompanhasse as mudanças que estão acontecendo no
mundo deixou um vazio que rapidamente foi ocupado por agentes subnacionais,
como governadores, pelo Congresso, presidentes das duas Casas e presidentes da
Comissão de Relações Exteriores e pela sociedade civil.
Nunca
antes na história deste país verificou-se quase semanalmente troca de
correspondência de brasileiros e americanos (Congressistas, ex-ministros e
sociedade civil) com Joe Biden e com autoridades de
seu governo e do Congresso, em Washington, tendo como foco a política ambiental
brasileira, e tratando de temas de interesse da relação bilateral.
Nos
últimos dias, com a aproximação da cúpula do clima, multiplicaram-se as
manifestações de artistas, personalidades nacionais e estrangeiras, mostrando o
grau de interesse fora do Brasil sobre o futuro da Amazônia.
Na
área oficial, Bolsonaro escreveu uma carta a Biden antecipando sua fala no dia
22 com algum avanço na narrativa seguida até aqui, mas com a referência ao
apoio financeiro em troca de promessa de redução de desmatamento em 2030. John
Kerry reconheceu a mudança de tom do governo brasileiro, mas cobrou resultado
de curto prazo, dando oportunidade para o embaixador dos EUA, em conversa em
grupo fechado, pedir resultados concretos e verificáveis.
As
cartas não definirão a política externa dos EUA em relação ao Brasil, pois há
muitos outros interesses econômicos, políticos e comerciais em jogo.
Certamente, contudo, elas terão influência quando as negociações bilaterais
começarem efetivamente, já que até aqui o que ocorreu foram diálogos em nível técnico,
evitando qualquer confrontação direta.
A
inusitada troca de missivas entre a sociedade civil brasileira e personalidades
internacionais sobre a Amazônia mostra a urgência de o Brasil voltar a ter uma
política externa com foco no meio ambiente e na mudança de clima, como ocorreu
até fins de 2018. A apresentação de Bolsonaro amanhã talvez seja a última
oportunidade para o Brasil voltar a apresentar-se como protagonista na
discussão global sobre mudança de clima e para indicar uma mudança séria e profunda
de rumo na política ambiental.
*Foi Embaixador do Brasil nos EUA e atualmente é presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (IRICE)
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