- O Globo
No
13 de maio, muita reflexão é feita sobre o que representa essa data para a
sociedade brasileira: afinal, deve ser um dia de festa ou de protestos?
O
livro “Flores, votos e balas”, de Angela Alonso, pode nos ajudar nessa questão,
tendo em vista que conta a trajetória dos movimentos sociais na conquista da
Abolição.
Primeiramente,
era preciso difundir o discurso pró-liberdade dos escravizados, a fim de que
houvesse pressão popular sobre as autoridades. Para tanto, o movimento valeu-se
de três pilares de argumentação: compaixão, direito e progresso.
Assim,
segundo David Brion Davis, o antiescravismo bebeu de quatro fontes. A primeira
era a tese de Montesquieu afirmando que a escravidão impede a felicidade
humana. Logo após, vinha a oposição entre escravidão e progresso humano, de
Adam Smith, acompanhado do romantismo e do protestantismo, que associou
escravidão ao pecado.
Vale
também mencionar que a obra traz luz a grandes figuras brasileiras, como Luiz
Gama, José do Patrocínio, André Rebouças, Rui Barbosa e Joaquim Nabuco, todos
integrantes do Partido Liberal à época, que se destacaram por atuar nas áreas
jurídica, política, diplomática e social, levando a todo o Brasil a luta pela
liberdade.
Na
esfera social, sendo um país de analfabetos, era preciso idealizar uma forma de
chegar a todas as camadas da população a missão de livrar a nação do
escravismo. Surgiram então as conferências-concerto. Preparadas por imagens,
poemas, músicas, encenação, a audiência atirava flores sobre libertador e
libertado. E, nesse processo, a camélia se converteu no símbolo do movimento.
Segundo a autora, “de 1878 a 1885, [...] foram 587 manifestações no espaço
público orientadas para persuadir a opinião pública e angariar novos adeptos”.
Na
política, as negociações e estratégias do Partido Liberal criaram as leis do
Ventre Livre e dos Sexagenários, que não passaram da melhor forma possível por
causa da resistência do Partido Conservador, eminentemente escravagista.
Nesse
momento, Dom Pedro II tentava se manter fora do debate, sem pender para nenhum
dos lados, o que, em verdade, reforçava o posicionamento escravista.
Mas
a campanha abolicionista seguia crescendo e conseguiu declarar o Ceará o primeiro
estado brasileiro a extinguir a escravidão, seguido pelo Amazonas. Foi uma
questão de tempo para que houvesse uma grande exigência nacional pela Abolição.
Vale
trazer o relato de Machado de Assis, segundo o qual, “houve sol, e grande sol,
naquele domingo de 1888, em que o Senado votou a lei, que a regente sancionou,
e todos saímos à rua. […] todos respiravam felicidade”.
Como 1,7 milhão de pessoas no país foram libertadas pela Lei Áurea, entendo que é preciso retomarmos essa festa que durou sete dias. De outro lado, porém, também é verdade que, do dia 14 até hoje, lutamos por mais liberdade, mas isso não pode apagar a importância do grande passo que demos nessa data tão emblemática para o Brasil.
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