segunda-feira, 10 de maio de 2021

Irapuã Santana - Abolicionismo popular

- O Globo

No 13 de maio, muita reflexão é feita sobre o que representa essa data para a sociedade brasileira: afinal, deve ser um dia de festa ou de protestos?

O livro “Flores, votos e balas”, de Angela Alonso, pode nos ajudar nessa questão, tendo em vista que conta a trajetória dos movimentos sociais na conquista da Abolição.

Primeiramente, era preciso difundir o discurso pró-liberdade dos escravizados, a fim de que houvesse pressão popular sobre as autoridades. Para tanto, o movimento valeu-se de três pilares de argumentação: compaixão, direito e progresso.

Assim, segundo David Brion Davis, o antiescravismo bebeu de quatro fontes. A primeira era a tese de Montesquieu afirmando que a escravidão impede a felicidade humana. Logo após, vinha a oposição entre escravidão e progresso humano, de Adam Smith, acompanhado do romantismo e do protestantismo, que associou escravidão ao pecado.

Vale também mencionar que a obra traz luz a grandes figuras brasileiras, como Luiz Gama, José do Patrocínio, André Rebouças, Rui Barbosa e Joaquim Nabuco, todos integrantes do Partido Liberal à época, que se destacaram por atuar nas áreas jurídica, política, diplomática e social, levando a todo o Brasil a luta pela liberdade.

Na seara jurídica, Luiz Gama realizou a façanha de libertar mil escravizados.

Na esfera social, sendo um país de analfabetos, era preciso idealizar uma forma de chegar a todas as camadas da população a missão de livrar a nação do escravismo. Surgiram então as conferências-concerto. Preparadas por imagens, poemas, músicas, encenação, a audiência atirava flores sobre libertador e libertado. E, nesse processo, a camélia se converteu no símbolo do movimento. Segundo a autora, “de 1878 a 1885, [...] foram 587 manifestações no espaço público orientadas para persuadir a opinião pública e angariar novos adeptos”.

Na política, as negociações e estratégias do Partido Liberal criaram as leis do Ventre Livre e dos Sexagenários, que não passaram da melhor forma possível por causa da resistência do Partido Conservador, eminentemente escravagista.

Nesse momento, Dom Pedro II tentava se manter fora do debate, sem pender para nenhum dos lados, o que, em verdade, reforçava o posicionamento escravista.

Mas a campanha abolicionista seguia crescendo e conseguiu declarar o Ceará o primeiro estado brasileiro a extinguir a escravidão, seguido pelo Amazonas. Foi uma questão de tempo para que houvesse uma grande exigência nacional pela Abolição.

Vale trazer o relato de Machado de Assis, segundo o qual, “houve sol, e grande sol, naquele domingo de 1888, em que o Senado votou a lei, que a regente sancionou, e todos saímos à rua. […] todos respiravam felicidade”.

Como 1,7 milhão de pessoas no país foram libertadas pela Lei Áurea, entendo que é preciso retomarmos essa festa que durou sete dias. De outro lado, porém, também é verdade que, do dia 14 até hoje, lutamos por mais liberdade, mas isso não pode apagar a importância do grande passo que demos nessa data tão emblemática para o Brasil.

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