quinta-feira, 17 de junho de 2021

Empresários ainda não veem ‘nome forte’ para 3ª via

Desistência de Luciano Huck e Amôedo joga incertezas sobre candidato alternativo para 2022

Mônica Scaramuzzo / Valor Econômico

SÃO PAULO - Com o calendário eleitoral se aproximando, uma parte da elite industrial do país está voltando a discutir nomes de centro que possam ganhar tração em 2022, furando o cerco entre o ex-presidente petista Luiz Inácio Lula da Silva e o atual presidente Jair Bolsonaro (sem partido). As desistências do apresentador Luciano Huck, da TV Globo, e de João Amôedo, do Partido Novo, de concorrer às eleições presidenciais aumentaram as incertezas sobre a possibilidade de que um candidato da terceira via possa ganhar força para ir ao segundo turno no ano que vem.

Preocupados com a polarização entre a esquerda e direita - as recentes pesquisas colocam Lula à frente de Bolsonaro -, o setor produtivo ainda não vê um nome forte capaz de concorrer em 2022. Mas acredita que uma união entre partidos poderia ser uma alternativa para se encontrar uma terceira via.

“Temos conversado com frequência, mas não estamos enxergando ainda essas alternativas”, disse um empresário sob reserva ao Valor. Os nomes que estão postos na mesa - os governadores de São Paulo, João Doria, e Eduardo Leite, ambos do PSDB; o ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT) e o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM) - não são vistos como candidatos que possam fazer frente a Lula e Bolsonaro.

Para Jayme Garfinkel, da Porto Seguro, ainda não há consenso para a construção de um nome viável de centro. O empresário participa de discussões com grupos que reúne pesos-pesados como Pedro Passos, da Natura, Pedro Wongtschowski, do Ultra, Horácio Piva, da Klabin, e Fábio Barbosa, ex- Santander e ex-Febraban. “É uma construção que tem de vir da política.”

Uma parte do empresariado acredita que o nome de centro deverá surgir até o fim do ano - e que as prévias do PSDB poderão dar o tom do rumo das eleições. No entanto, o nome de João Doria não é visto como consenso, uma vez o governador tem alta rejeição mesmo com o legado de acelerar a vacinação contra a covid-19. O tucano Tasso Jereissati é apontado como uma alternativa, mas há dúvidas sobre a disposição do ex-governador do Ceará de concorrer às urnas em 2022.

Em conversas com o líder do PSD Gilberto Kassab, uma outra parte do setor produtivo e bancos acredita que um candidato forte de centro poderá ser construído no início do ano que vem. “Kassab tem atraído para seu partido uma base importante de políticos que podem ganhar projeção no Congresso”, disse uma fonte da indústria, referindo-se à chegada do atual prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, e o senador Antonio Anastasia, e à possibilidade, ainda que remota, da saída de Geraldo Alckmin do PSDB.

A candidatura de Ciro Gomes também não é vista com bons olhos pelo setor privado pelo temperamento intempestivo do político do PDT. O ex-ministro da Justiça Sergio Moro também estaria enfraquecido para concorrer com Lula e Bolsonaro.

Os empresários ouvidos pelo Valor reconhecem que a definição de um candidato de centro é importante para evitar a polarização da esquerda e da direita nas urnas em 2022, mas já não têm uma grande repulsa pelo nome do ex-presidente Lula, caso ele concorra com Bolsonaro em 2022. “A dúvida é se teremos um Lula paz e amor ou um Lula mais ressentido”, disse uma fonte que preferiu anonimato.

Parte do setor produtivo não acredita, neste momento, que a recuperação da economia será suficiente para deixar Bolsonaro forte nas urnas. “A economia pode até se recuperar, mas o desemprego está alto. Além disso, teremos um saldo muito alto de vítimas pela pandemia”, disse um industrial.

Nenhum comentário: