Marcelo de Moraes / O Estado de S. Paulo
Se discutíssemos nomes hoje, a gente não se
reunia pela segunda vez', disse o presidente do Cidadania, Roberto Freire
BRASÍLIA – Um almoço reunindo dirigentes
de sete partidos
de correntes de centro avançou no compromisso de buscar unidade
na construção de uma candidatura presidencial de terceira via para 2022. Sem ainda definir o
nome de quem disputará a eleição, a ideia é apostar na "maioria
silenciosa" do eleitorado que não quer votar nem no presidente Jair Bolsonaro nem
no ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, os dois nomes que polarizam a disputa nesse
momento.
"O número de brasileiros que se posiciona hoje torcendo para que surja uma nova alternativa é maior do que o eleitorado de Bolsonaro e Lula. Mas essa é uma maioria silenciosa. Uma maioria que nem está com bandeira na rua, nem está em cima de uma moto no final de semana. É para esses brasileiros que nós queremos falar e dizer que a democracia vai oferecer alternativa. E o nosso grande esforço é que essas alternativas estejam concentradas", afirmou o presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo.
A decisão de não discutir ainda quem será o
candidato foi estratégica. Nesse momento, a ideia é agregar o maior número
possível de partidos em torno do projeto da terceira via contra Bolsonaro e
Lula e falar num candidato, nesse momento, poderia atrapalhar essa costura
política. "Se discutíssemos nomes hoje, a gente não se reunia pela segunda
vez", disse o presidente nacional do Cidadania, Roberto Freire.
Participaram do encontro representantes do PSDB, DEM, MDB, Cidadania, Podemos,
PV e Solidariedade.
Na prática, porém, a corrida por essa indicação está se restringindo cada vez mais. Hoje estão na lista o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM), que propôs a reunião, além dos quatro nomes do PSDB que disputarão as prévias tucanos: João Doria, Eduardo Leite, Tasso Jereissati e Arthur Virgílio.
A conversa acabou servindo também como uma
espécie de acomodação de terreno depois da saída de cena de algumas possíveis
opções, como Luciano Huck, que
decidiu renovar contrato com a Globo e vai assumir o horário de domingo do
apresentador Fausto Silva, e João Amoêdo, do Novo, que desistiu de concorrer. O
ex-ministro Sérgio Moro já
nem é mais considerado como opção, embora o grupo deseje seu apoio
político.
"Dessa reunião, saiu um conceito de
unidade, de pacificação de País, de zelo pela democracia", disse Mandetta.
"Acho que isso foi o mais importante. Os partidos todos falando a mesma
língua. Agora, tem um caminho. A construção de uma agenda, a construção de uma
unidade. Os partidos estão em momentos diferentes. Você tem um PSDB que tem
prévias. Você tem outros partidos que estão analisando internamente. Mas esse
conceito de perceber que os dois extremos não pacificam o País, que agravam a
crise brasileira, esse foi o ponto principal dessa conversa hoje",
avaliou.
"Há um compromisso desse conjunto de
partidos de, no primeiro turno, não participarem dessas alternativas que estão
aí postas e apostar que há uma chance real de colocar no segundo turno alguém
que faça parte desse projeto. Dentro das candidaturas que vão começar a se
afunilar. Algumas dessas candidaturas foram diluindo ao longo desses últimos
meses. E outras vão se confirmar. A gente vai ter um quadro até o fim das
prévias do PSDB em 21 de novembro", acrescentou Araújo.
"Hoje claramente foi definido que o
consenso é esse: buscar construir uma alternativa contra Bolsonaro e contra
Lula. E que não será contra porque será um projeto para o Brasil. Mas não é nem
Lula, nem Bolsonaro", completou o presidente nacional do Cidadania,
Roberto Freire.
Na conversa, o presidente do DEM, ACM Neto, adotou a mesma
linha dos demais, apoiando a unidade na montagem da candidatura de terceira
via, apesar de seu partido ter três ministros no governo Bolsonaro. A
preocupação com uma possível posição dúbia de ACM Neto foi posta de lado por
Mandetta. "Ele já deixou bem claro que não vai estar com Bolsonaro",
garantiu.
Apesar de concordarem em não se aliar com
Bolsonaro e Lula no primeiro turno, os dirigentes partidários reconhecem que
não é possível descartar que surja mais uma candidatura desse grupo de centro.
Mas que será feito um esforço para que todos estejam juntos no primeiro turno.
"Se possibilitar uma candidatura
única, melhor. Se não for possível, que seja reduzido a um número mínimo de
candidaturas. Há um nítido espaço na sociedade que hoje se incomoda com os
extremos que estão estabelecidos. E há uma obrigação institucional nossa, há
uma compreensão que temos uma responsabilidade institucional de dizer à
sociedade brasileira que há um esforço para um projeto diferente desses dois. E
para que permita mais alternativas. Estamos confiantes que vamos
conseguir", afirmou Bruno Araújo.
No almoço desta quarta participaram pelo
DEM, ACM Neto e os ex-ministros Mandetta e Mendonça Filho; Bruno Araújo pelo
PSDB; Roberto Freire pelo Cidadania; a presidente nacional do Podemos, deputada
Renata Abreu; o presidente nacional do PV, José Luiz Penna; o deputado
Herculano Passos pelo MDB; e o deputado Áureo Ribeiro pelo Solidariedade.
Presidente do MDB, Baleia Rossi não pôde ir
no encontro porque tinha um almoço agendado previamente com o presidente do
Senado, Rodrigo Pacheco, onde também conversou sobre a agenda política
nacional. Presidente do Solidariedade, o deputado Paulinho Pereira está
acompanhando um irmão doente. Outra ausência foi a do presidente do PSL,
deputado Luciano Bivar, que também está doente. Carlos Lupi, do PDT, também foi
convidado mas tinha uma outra agenda para cumprir.
A ideia é que o grupo passe a se reunir regularmente para construir uma agenda de trabalho. A próxima conversa deve acontecer daqui a 15 dias. "Agora, você tem um compromisso de caminhada. Vamos ver se a gente chega ao fim com essa unidade toda construída. Isso é só um primeiro momento. Outras conversas virão. Isso vai se tornar rotina", disse Mandetta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário