Dirigentes de partidos almoçaram em Brasília, mas acreditam que nome da terceira via só deve sair no ano que vem
Andrea Jubé /Valor Econômico
BRASÍLIA - Dirigentes e parlamentares de
sete partidos de centro reuniram-se ontem em um almoço em Brasília em busca de
um consenso em torno de uma terceira via para disputar a Presidência da
República, com musculatura para romper a polarização estabelecida entre o
presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O grupo já agendou nova reunião para o mês
que vem, quando se pretende definir uma agenda de atividades dos pré-candidatos
para o segundo semestre. Até lá, o grupo quer crescer aglutinando dez partidos
grandes e médios em torno de uma alternativa ainda em construção. O objetivo é
atrair para o próximo encontro, em julho, o PDT, o Novo e o PSL.
A reunião das lideranças de centro em
Brasília vinha sendo articulada havia algumas semanas. Muitos já se falavam por
telefone e vídeo, mas o encontro presencial, num cenário de muitos já vacinados
contra a covid-19, foi viabilizado, principalmente, pelos presidentes do DEM,
ACM Neto, do PSDB, Bruno Araújo, e pelo ex-ministro da Saúde e presidenciável
do DEM Luiz Henrique Mandetta.
Além de Neto, Araújo e Mandetta,
compareceram ao almoço os presidentes do Cidadania, Roberto Freire, do Podemos,
Renata Abreu, e do PV, José Luiz Penna. O presidente do MDB, deputado Baleia
Rossi (SP), tinha um compromisso com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG),
no mesmo horário, e enviou o deputado Herculano Passos (MDB-SP) para
representá-lo. O presidente do Solidariedade, deputado Paulinho da Força (SP),
enviou como representante o deputado Áureo Lírio (Solidariedade-RJ). O PDT foi
convidado, mas não compareceu nem enviou representante.
Na saída do encontro, realizado na casa de
um advogado ligado ao DEM, no Lago Sul, Bruno Araújo disse que o grupo quer
dialogar com a maioria dos brasileiros que ainda não se posicionou sobre as
eleições.
“Queremos falar com essa maioria silenciosa, que não é quem está com bandeira vermelha nas ruas, nem quem está em cima de uma moto no fim de semana se manifestando politicamente”, disse o tucano, em alusão aos protestos contra Bolsonaro e aos passeios de moto promovidos pelo presidente.
Um dos participantes do almoço, que pediu
para falar reservadamente com o Valor,
ponderou que não existe ainda o consenso de quem será o candidato de centro à
Presidência, e essa definição ficará para o ano que vem.
Para o segundo semestre, o objetivo é criar
agendas para dar visibilidade aos pré-candidatos de centro, enquanto se aguarda
a definição do postulante tucano programada para novembro.
O PSDB tem quatro pré-candidatos: os
governadores de São Paulo, João Doria, do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, o
senador Tasso Jereissati (CE), e o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio. O DEM
já colocou o nome de Mandetta.
Várias lideranças do grupo defendem, nos
bastidores, que, se o PDT se juntar ao bloco e apenas Ciro Gomes (PDT) alcançar
os dois dígitos nas pesquisas no ano que vem, seja dado apoio à candidatura do
ex-governador do Ceará.
Em paralelo, há esforços para trazer o PSL
para o bloco. O presidente do MDB, Baleia Rossi, é próximo do dirigente da
sigla, deputado Luciano Bivar (PE). Ambos se reuniram com o ex-presidente
Michel Temer em São Paulo há cerca de três semanas. ACM Neto, também articula
levar o PSL para a coligação de sua pré-candidatura ao governo da Bahia.
O grupo vai se voltar agora à construção de
uma agenda no segundo semestre para movimentar os pré-candidatos de centro, dar
visibilidade a eles, com atividades em várias regiões do país, tratando de
temas de interesse nacional. Nas palavras de um dos participantes do almoço,
essa agenda será um esforço para “dar sinais políticos concretos de que é
possível construir uma alternativa viável a Lula e Bolsonaro”.
Entretanto, o grupo ainda está longe do
consenso, e há dissidências declaradas. Alas do MDB, principalmente no
Nordeste, já fecharam apoio a Lula, como declarou o presidente do partido no
Ceará, o ex-senador Eunício Oliveira.
O deputado Paulinho da Força declarou
ao Valor que
está “cético” quanto à terceira via. “Isso não tem futuro. Ali é tentativa de
um ganhar o outro. Como tem muitos candidatos nesse grupo, a hora em que um
disser que é candidato, e o outro também, não vai ter acordo. Não estou a fim
de perder tempo”, disse o dirigente do Solidariedade. Ele se reuniu com Lula em
Brasília no começo de maio.
Uma sucessão de fatores pressionou as
lideranças de centro a apressarem o passo. Na terça-feira à noite, o
apresentador Luciano Huck afirmou, durante o programa “Conversa com Bial”,
exibido pela TV Globo, que não será candidato à Presidência em 2022. Também na
terça-feira, o PSDB finalmente definiu o formato das prévias partidárias.
Por fim, Baleia Rossi e ACM Neto
restabeleceram a relação em um almoço na casa de Bruno Araújo na semana
passada. Eles estavam com a relação estremecida após as rusgas durante a
campanha à presidência da Câmara, em que parte da bancada do DEM apoiou Arthur
Lira (PP-AL), rompendo acordo com o MDB.
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